Breve histórico
Por séculos, o litoral brasileiro esteve inserido dentro de uma lógica capitalista/mercantilista, com o pacto colonial estabelecido pela coroa portuguesa. A costa brasileira neste período serviu de referência para a navegação mercantil, onde toneladas e toneladas de matérias-primas de vários tipos seguiam para o estrangeiro e também retornavam manufaturados para cá. A colonização europeia iniciada no litoral fez com que alguns dos centros urbanos a muito estabelecidos se transformassem em portos movimentados, especialmente Recife, Salvador e o Rio de Janeiro. É preciso lembrar também que estes foram os portos onde mais se receberam pessoas através do tráfico transatlântico de escravizados, trágico episódio de nossa História, onde milhões de africanos foram trazidos ao Brasil em condições terríveis e enviados para realizar os mais diversos tipos de trabalhos penosos.
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Este processo continuou na passagem da colônia para o império. No século 19 já em um contexto de independência e pós-1822, a atividade mercantil cresceu com a Revolução Industrial e as demandas de matérias-primas cada vez mais maiores. O Brasil tornou-se já como nação independente, importante polo exportador de gêneros agrícolas e claro, a navegação mercante era parte primordial neste processo. Mas até então, éramos exportadores de matéria-prima que dependíamos quase que 100% de navios mercantes construídos no estrangeiro.
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Então, entre as décadas de 1840 e 1850, veremos o início da criação e expansão de uma Marinha Mercante genuinamente brasileira. A data de aniversário da Marinha Mercante coincide com o aniversário do empresário e político Irineu Evangelista de Souza, o famoso “Barão de Mauá”, pois ele foi grande incentivador desta atividade econômica nacional. Foi através de sua iniciativa que, em 1846, foi adquirida junto a uma falida firma inglesa, o que viria a ser o maior estaleiro de construção naval do país, em Niterói na então província do Rio de Janeiro.
Até meados da década de 1840 os estaleiros e pequenas fundições dedicadas a construção naval estavam concentradas nos arredores do arsenal da Marinha e na Ponta da Areia, em Niterói. Em meados de 1844, o britânico Charles Colmann inaugura uma pequena fundição na Ponta da Areia, em Niterói. A fundição vai de mal a pior e, em 11 de agosto de 1846 Colmann vende essa pequena empresa para
Irineu Evangelista de Sousa que a rebatiza Estabelecimento de Fundição e Estaleiros da Ponta d’Areia (MOMESSO, 2007). Após a aquisição do local e seu incremento pelo Barão de Mauá, foram construídos nos próximos anos dezenas de embarcações, inclusive encomendadas pela Marinha Imperial Brasileira. O lugar era de tamanha importância que, em 1847, recebeu a visita ilustre do imperador D. Pedro II, fato registrado na nota a seguir:
O Jornal do Commercio (RJ) em edição de outubro de 1847, descreveu com detalhes a visita de D. Pedro II ao local:
“Sua Magestade o Imperador, acompanhado pelos Srs. ministros e secretários de estado, pelos seus criados de semana, e por algumas outras pessoas de distincção, embarcou homtem pelo meio dia, no arsenal de marinha, a bordo do vapor Venus e seguio para Ponta d’Arêa, afim de visitar o estabelecimento de fundição de ferro que ali possuem os Srs. Irineu Evangelista de Souza e Manoel Corrêa de Aguiar. Após o vapor em que ia S.M. seguio o Santa Cruz, que fôra pelos proprietários do referido estabelecimento posto à disposição das muitas pessoas convidadas para ter a honra de acompanhar a S.M. em seu passeio. Ao atravessar a bahia o vapor Venus, salvarão as Fortalezas e os vazos de guerra nacionaes e estrangeiros surtos no porto, e subio a gente às vergas. S.M chegando à ponta de Areia, foi recebido pelos proprietários do estabelecimento, e dirigio-se a visitar as diversas officinas, que vio trabalhar em todos os seus detalhes. Na officina de fundição vio S.M. fundir as letras que compunhão a seguinte phrase: “Viva S.M. o Imperador D. Pedro II”.
O título de patrono da Marinha Mercante brasileira e a data foram estabelecidos no ano de 1962, durante o governo do presidente João Goulart, pelo então primeiro-ministro Tancredo Neves.
“Singrar o mar, imenso e fascinante
Orientados pelos astros do universo
É o escopo dos alunos da Mercante
Para elevar do Brasil, o seu progresso.”
Fontes:
https://www.sindmar.org.br/viva-o-dia-da-marinha-mercante-brasileira/
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https://www.marinha.mil.br/datas-comemorativas
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http://memoria.bn.br/
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https://commons.wikimedia.org/wiki/
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Jornais: Diário do Rio de Janeiro (RJ) 1847.
Jornal do Commercio (RJ) 1845-1847.
MOMESSO, Beatriz Piva et al. Indústria e trabalho no século XIX: o estabelecimento de Fundição e Máquinas de Ponta d’Areia. 2007.