O Ministério da Aeronáutica foi criado em 20 de janeiro de 1941, e junto a ele, automaticamente, seu braço armado, a Força Aérea Brasileira (FAB). Naqueles primeiros meses de operação, a Força Aérea Brasileira de cara, já se encontrava em um cenário tenso: a Segunda Guerra Mundial, que fora iniciada em setembro de 1939.
Até aquele momento, o Brasil encontrava-se neutro no conflito, ainda que tivesse ligações econômicas fortes com ambos os lados em disputa. Mas o ritmo dos acontecimentos levaria o país sul-americano a escolher um lado. Em dezembro de 1941, ocorreu a entrada dos Estados Unidos na guerra. Já a um tempo, o Brasil vinha aproximando-se dos EUA, que utilizando-se da sua “política de boa vizinhança”, ia aos poucos convencendo os demais países do continente a unir-se contra quaisquer agressões a seus territórios.
Neste jogo diplomático, teve um papel fundamental o então ministro brasileiro das relações exteriores, Oswaldo Aranha, um dos braços do então presidente Getúlio Vargas. Na Conferência dos Chanceleres da Americanos, em janeiro de 1942, no Rio de Janeiro, o Brasil, junto a vários outros países, posicionaram-se ao lado dos norte-americanos, rompendo relações diplomáticas com o Eixo (representado pela Alemanha Nazista e a Itália Fascista). Essa atitude foi interpretada por Berlim e Roma como um ato de guerra não-declarada.
A partir dali, submarinos alemães e italianos passaram a frequentar mais e mais o Atlântico Sul, próximos da costa americana, atacando navios mercantes, inclusive, de bandeira brasileira. Logo, mesmo que não estivessem oficialmente em guerra um com o outro, o Brasil e as potências do Eixo hostilizaram-se em diversas ocasiões. O Brasil só entraria de vez na guerra com os ataques na costa da Bahia, em agosto de 1942. O evento que nos interessa, ocorreu meses antes, em maio.
No dia 18 de maio de 1942, o navio cargueiro do Lloyd Brasileiro, o Comandante Lyra, comandado pelo capitão Severino Sotero de Oliveira, foi interceptado, atacado e afundado pelo submarino italiano Barbarigo., que era comandado pelo capitão Enzo Grossi. Apesar de torpedeado e atingido por salvas do canhão de deque do submarino, o navio brasileiro resistiu, sendo sua tripulação mais tarde, resgatada por unidades da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) que já operavam no local em conjunto com a Marinha do Brasil. Fato curioso: Enzo Grossi era brasileiro, filho de imigrantes italianos e nascido em São Paulo, no começo do século 20.
O ataque ao Comandante Lyra soou alerta geral na região. Atentos à presença de elemento hostil na área, as bases aéreas estacionadas na região em Fortaleza (CE), Natal (RN) e Recife (PE) começaram a enviar patrulhas aéreas. Da base aérea de Fortaleza, quatro dias após o afundamento do navio mercante brasileiro, um avião bombardeiro da Força Aérea Brasileira, modelo Boeing B-25 Mitchel, juntou-se às patrulhas. Esta aeronave era comandada por dois brasileiros: o Capitão-aviador Parreiras Horta e Tenente-aviador Oswaldo Pamplona.
Apenas quatro dias após o ataque ao navio brasileiro, o B-25 de Horta e Pamplona realizava patrulha aérea na região entre o Atol das Rocas e Fernando de Noronha, quando interceptaram um alvo navegando na superfície. Na época não se sabia, mas tratava-se justamente do Barbarigo, que continuava a operar em águas brasileiras. Imediatamente, o avião brasileiro realizou o ataque, sobrevoando o submarino italiano, utilizando suas metralhadoras e lançando dez bombas de 45 kg sobre ele. Ao mesmo tempo, os marujos italianos comandados de Grossi revidaram com as armas antiaéreas de seu convés, que no entanto, não atingiram o alvo.
Consta que os oficiais da FAB, após isso, sobrevoaram o alvo por um período, e em seguida, afastaram-se dele, retornando a sua base em Fortaleza. Imaginando terem realizado dano ao submarino italiano, criaram a suposição de que o mesmo não conseguiria mais mergulhar, afastando-se da área. Mas a realidade é que o Barbarigo não fora atingido gravemente, sendo capaz de mergulhar e afastar-se do local.
Os italianos haviam escapado desta vez, porém, independente disso, Horta e Pamplona haviam feito História. Foram os primeiros aviadores brasileiros a realizar um ataque contra um potencial inimigo na II Guerra Mundial. E por este feito, o dia 22 de maio é considerado o dia da Aviação de Patrulha Marítima. Quando o Brasil entrou oficialmente em guerra contra o Eixo, em agosto de 1942, as patrulhas aéreas marítimas sobre o Atlântico Sul se intensificariam, e no decorrer da guerra, o esforço conjunto do Brasil com os Estados Unidos levou ao afundamento de vários submarinos inimigos, tanto alemães, como italianos.
Referências
http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
Jornais: Diário da Noite, A NOITE, Diário Carioca (RJ), 1942.
https://www.fab.mil.br/index.php