Exposição
A corrida & a cultura
POR AHCRAVO GORIM – ANTÓNIO JOSÉ CRAVO
A Torreira é uma vila e freguesia de concelho da Murtosa, cuja economia depende essencialmente da pesca e do turismo. Na sua origem esteve o povoamento sazonal por pescadores da xávega, praticada na orla marítima. Os recursos piscatórios disponíveis na ria de Aveiro, na margem poente da qual se situa, levou alguns pescadores a estabelecerem-se no local, dedicando-se à pesca no mar e na ria.
O dia 8 de Setembro é o dia de São Paio, santo padroeiro da Torreira, e feriado em todo o concelho da Murtosa. Durante a semana em que decorre a Romaria do São Paio, há feira, concertos, procissão e actividades lúdicas. Destacam-se as regatas de moliceiros e bateiras à vela e as corridas de chinchorras a remos – objecto desta exposição.
As chinchorras devem a sua designação ao facto de terem sido utilizadas para a prática de uma arte de pesca designada por “chinchorro” – arte de cerco e alar para terra ou para bordo. Actualmente esta arte de pesca deixou de ser praticada e as chinchorras são utilizadas para artes de emalhar e também de mariscar. Foi delas que derivou o barco de mar usado na xávega
Durantes as festividades o recuperar da tradição concretiza-se com estas bateiras na realização de uma corrida emocionante, a remos, que parte da margem nascente (serra, para os pescadores) e termina na poente (mar, para os pescadores). A tripulação é composta por seis remadores que vestem uma t-shirt com o nome da embarcação e todas de cores diferentes. As equipas são fundamentalmente masculinas, mas também as há mistas e só femininas.
A duração da corrida não chega aos 10 minutos e caracteriza-se pelo esforço brutal dos remadores aos gritos de “bota carago!”.
Se as regatas de bateiras e moliceiros, à vela, têm uma beleza que é visionável das margens e fazem um percurso paralelo, na sua quase totalidade, à margem onde se encontram os espectadores, as corridas de chinchorras, sendo o percurso feito entre margens, só se tornam emocionantes para os espectadores, “em terra”, nos momentos finais.
Mas a adrenalina e a emoção que se vive em todas e em cada uma das chinchorras concorrentes, ao longo de toda a corrida, só é apercebida por quem as acompanhar num outro barco. Foi assim que foram registados os momentos expostos e que considero serem os mais emocionantes de todos os que decorrem na Romaria do São Paio da Torreira.