Júlio Verne e o mar

O famoso escritor francês Júlio Verne (1828-1905) é conhecido por vários clássicos da literatura de aventura e de ficção científica como…

O famoso escritor francês Júlio Verne (1828-1905) é conhecido por vários clássicos da literatura de aventura e de ficção científica como Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1870) e A volta ao mundo em 80 dias (1872), no entanto, o que talvez pouca gente saiba era que Verne era um homem que gostava do mar, fato esse, que em vários de seus livros, o mar aparece diretamente ou indiretamente em suas histórias.

Quando criança, Verne viveu com a família em Nantes, cidade com um importante porto fluvial, levando o jovem Verne desde cedo a ter contato com os ofícios portuários. Ele inclusive teve como preceptora, a viúva de um capitão. Aos 11 anos de idade, Júlio Verne tentou se tornar grumete (aprendiz de marinheiro) e viajar para à Índia. Mas seu pai o impediu. Além disso, mais tarde ele confessou que a ideia era encontrar sua prima Carolina, por quem tinha uma paixão juvenil, e ela se mudou para a Índia.

Verne acabou desistindo de se tornar marinheiro e seguiu os passos do pai, formando-se em Direito. No entanto, ao viajar para Paris em 1848, Verne passou a se interessar pela dramaturgia e a literatura, e assim, começou a escrever suas peças e livros, algo que decidiu ter como carreira pelo resto da vida, desistindo de ser advogado como seus pais desejavam.

Fascinado por aventuras, viagens, expedições e a tecnologia, Verne tornou isso tema de seus romances, peças e ensaios. E, no caso, destaca-se que muitas dessas obras envolveram navegações por mares, rios e lagos. Algumas são bastante conhecidas, e outras pouco conhecidas do grande público. Exemplo disso, é que ele publicou o ensaio Os primeiros navios da marinha mexicana (1852) e Uma hibernação nos gelos (1854), alguns de seus primeiros trabalhos sobre a navegação.

Porém, seu primeiro romance referente a navegação foi O capitão Hateras (1866), o qual narra uma expedição para explorar as águas do Polo Norte, baseado em expedições reais daquela época. Em que o norte da Groenlândia e o Oceano Glacial Ártico ainda estavam sendo mapeados.

O gosto por viagens marítimas foi se aflorando ao mesmo tempo em que Verne trabalhava em outros de seus livros. O fato de ele ter sido um escritor prolífico, o fez escrever vários livros ao mesmo tempo. Em 1868, ele comprou seu primeiro barco, o Saint-Michel I, nomeado em homenagem ao seu único filho Michel Verne. Neste período, ele também viajou para os Estados Unidos com seu irmão mais velho, Paul Verne, e cruzando o Atlântico teve ideia para algumas obras.

Condição essa que entre 1866 e 1868 ele escreveu o romance em três partes, intitulado Os Filhos do Capitão Grant (1868), o qual narra uma longa viagem de resgate, em que os filhos de Harry Grant estão a procura do pai, que naufragou ou no Atlântico Sul ou no Pacífico Sul. Assim, a trama passa pela Argentina, a Austrália e outras ilhas da Oceania, em busca do desaparecido capitão Grant.

Todavia, a obra marítima mais famosa de Júlio Verne é Vinte mil léguas submarinas (1870), em que ele troca os navios a vela e a vapor, dessa vez para uma tecnologia ainda em desenvolvimento, o submarino. Neste livro somos apresentados ao submarino elétrico chamado Nautilus, desenvolvido e capitaneado pelo misterioso capitão rebelde, chamado de Nemo. A viagem acompanha os náufragos Professor Arannax, Conseil e Ned Land, que são resgatados por Nemo e feitos prisioneiros, enquanto o capitão viaja pelo Pacífico, o Índico, o Mediterrâneo e o Atlântico, numa jornada de vinte mil léguas. Esse livro foi escrito em grande parte a bordo do Saint-Michel, em suas viagens pela costa francesa.

Verne continuou a escrever outros romances a bordo de seu barco, o qual ele chamava de “gabinete de trabalho flutuante”. Em meio as novas produções, algumas retomaram as viagens marítimas como A cidade flutuante (1871), A ilha misteriosa (1874) – a qual possui ligação com Vinte mil léguas submarinas -, O Chanchellor (1874) que romanceou o naufrágio desse navio.

Em 1876, Júlio Verne adquiriu um iate, nomeando-o de Saint-Michel II, no qual escreveu outros livros e viajou pelo Atlântico Norte e o Mediterrâneo. Dois anos depois ele adquiriu um novo navio, o Saint-Michel III, o último que comprou, sendo sua maior embarcação. Ambas as embarcações foram usadas não apenas para viagem e lazer de Verne, mas também para passeios com familiares, amigos e patrocinadores, e até em encenações feitas em portos, onde o escritor cedia seus iates para que peças suas fossem encenadas.

Uma obra que não envolve o mar, mas a navegação, algo que apreciava Verne, trata-se de A jangada (1880), romance que mostra a jornada da família Garral de Iquitos no Peru até Belém do Pará, no Brasil. Os Garral, seus criados, escravos e convidados, viajam numa imensa balsa através do rio Amazonas. Sendo a única obra de Verne dedicada ao Peru e o Brasil, mesmo que ele não tenha viajado para estes países.

No entanto, Júlio Verne ainda retomou as viagens marinhas, algo visto em livros como A escola dos Robinsons (1882), uma homenagem a Robison Crusoé (1719); O arquipélago em chamas (1883), em que ele falou sobre piratas; O náufrago do Cynthia (1885), Robur, o Conquistador (1866), A esfinge do gelo (1897) – uma homenagem ao livro A narrativa de Arthur Gordon Pym (1838) de Edgar Allan Poe. A obra de Verne foi escrita como uma continuação da de Poe, narrando uma expedição que buscava por uma civilização perdida na Antártida.

Júlio Verne ainda seguiu escrevendo até o fim da vida, mesmo sofrendo de problemas emocionais devido a perda de familiares e de saúde, como a catarata. Um dos últimos livros que ele publicou foi Invasão do Mar (1905), uma história cuja trama se passava em 1930, em que um terremoto no Saara, fez que as águas do Mediterrâneo inundassem parte daquele deserto, formando o “Mar do Saara”, o qual passou a ser disputado por europeus e os tuaregues.

Em 2005 uma réplica do Saint-Michel II foi construída para celebrar o centenário da morte do escritor. O iate ainda segue em atividade atualmente, sendo usado para promover o trabalho de Verne e outras causas culturais.

Referências

BUTCHER, William. Jules Verne: The definitive biography. New York: Thunder’s Press Mouth, 2006.

SMYTH, Edmund J. (ed.). Jules Verne: Narratives of Modernity, Liverpool: Liverpool University Press, 2000.

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