110 anos do naufrágio do Titanic

Dando continuidade acerca da trágica história do RMS Titanic, caso você não leu o texto anterior, dê uma conferida, pois agora…

Dando continuidade acerca da trágica história do RMS Titanic, caso você não leu o texto anterior, dê uma conferida, pois agora salientarei acerca do naufrágio que acometeu em 1912, o então maior transatlântico do mundo.

O RMS Titanic zarpou no dia 10 de abril do porto de Southtamptom, ainda hoje utilizado pelos cruzeiros, iniciando sua viagem inaugural. O grande navio seguiu para a costa da França e depois o sul da Irlanda para embarcar e desembarcar passageiros, porém, na noite do dia 11 ele iniciou a viagem rumo à Nova York. Como a empresa que o construiu, a White Star Line ambicionava o prêmio Flâmula Azul, concedido aos transatlânticos mais velozes, foi dada a ordem que o gigantesco navio viajasse o mais rápido que podia. Por conta disso, os dias 12 e 13 seguiram-se tranquilos e rápidos. A expectativa era que entre os dias 17 e 18 ele poderia estar chegando ao porto de Nova York. Entretanto, o desastre ocorreu na noite do dia 14.

Ainda de manhã no dia 14 de abril de 1912, outros navios na região trocavam informações via rádio, alertando para o risco de gelo à deriva, expressão para se referir aos icebergs. Alguns dos sobreviventes do naufrágio relataram que avistaram as ilhotas de gelo no horizonte. Numa situação dessa é recomendado prudência, em que se deve reforçar a equipe de observação e se for o caso reduzir a velocidade. Ao longo do dia vários alertas de avistamento de icebergs foram transmitidos por distintos navios, mesmo assim, o capitão do Titanic Edward Smith (1850-1912) ordenou que a velocidade de 22 nós (41km/h) fosse mantida.

Já pela noite os últimos alertas sobre gelo à deriva foram emitidos pelo cargueiro SS Californian. Todavia, por volta das 23h a situação do oceano ficou tensa. Apesar das águas calmas sem ondulações, a noite estava bastante escura devido a falta do luar, além de que, devido ao frito da região, uma tênue névoa pairava no horizonte, tudo isso somado a alta velocidade do navio e a falta de mais observadores, prejudicou as ações de cautela.

Por volta das 23h39 minutos foi soado a sineta de alerta, indicando colisão iminente. O oficial James Moody (1887-1912), que estava no comando no momento, ordenou reversão nos motores e que o navio virasse para boreste (esquerda). No entanto, devido a alta velocidade, a embarcação não conseguiu evitar totalmente a colisão, raspando a lateral direita da proa no iceberg, amassando o casco em diferentes pontos (diferente de um enorme rasgo que se considerou por muito tempo) levando a infiltração nos convés inferiores.

Apesar do susto pela colisão de raspão, a tripulação, o presidente da companhia Joseph Bruce Ismay (1862-1937) e o engenheiro do navio Thomas Andrews (1873-1912), acalmaram os passageiros, alegando que o navio era muito resistente, tendo sido construído com aço reforçado, além das melhores medidas tecnológicas para contenção de água e bombeamento. E somando-se ao fato que a colisão foi de raspão, então o risco de naufrágio foi descartado. Além disso, corria a fama de que o Titanic era “inafundável”, ideia até surgida antes com o RMS Cedric, outro navio da mesma companhia.

Entretanto, os anteparos de contenção não funcionaram direito, além de que o aço do navio como atestaram estudos feitos nas últimas décadas, continha algumas falhas, incluindo o fato de que parte dos rebites utilizados nas placas, era feito de ferro fundido, não de aço, o que significou serem mais frágeis, por conta disso, o impacto os fez arrebentarem e as placas se soltarem, contribuindo para a entrada de água. Apesar das bombas de drenagem, a água começou a encher rapidamente os convés inferiores.

Era 24h da madrugada de 15 de abril quando se deu ordem para começar a reunir os passageiros para seguir ao convés, no entanto, a ideia de que ele poderia afundar não foi divulgada. Fato esse que parte dos passageiros relutaram em deixar suas cabines. O que significa que em menos de meia hora a situação que parecia ter sido apenas um susto, havia se tornado mais grave. As bombas de drenagem não conseguiam expelir com eficácia o grande volume de água marinha, além de que, a água estava infiltrando-se pelos anteparos.

Mensagens de socorro foram enviadas, enquanto os passageiros eram reunidos no convés superior, recebendo coletes salva-vidas e se reunindo próximo aos botes. A descida dos botes foi desordenada e feita de forma errada, pois cada bote deveria conter 40 pessoas, mas a maioria foi descida com menos gente. Alguns chegavam a levar apenas metade da capacidade total. Soma-se também o fato de que o número de botes disponíveis para os passageiros e tripulantes era insuficiente para atender a grande quantidade de pessoas a bordo, o que significava que mesmo que tudo tivesse dado certo, centenas de pessoas não conseguiriam embarcar por falta de botes.

Por volta das 1h30 da madrugada o navio já estava claramente afundando. Não havendo mais chances de isso ser revertido. O desespero tomou conta de todos, havendo brigas e desordem. Parte dos passageiros da terceira classe estavam presos nos convés inferiores, com dificuldades de saírem do navio, além de que algumas portas estavam trancadas e assim permaneceram. Outros tentavam invadir botes e alguns até mesmo se jogaram no mar frio. O filme Titanic (1997) mostra bem como teria sido toda essa tensão e desespero.

Apesar de alguns navios terem respondido a mensagem de socorro, todos estavam distantes. No entanto, ninguém imaginava que o Titanic fosse afundar tão depressa, logo, acreditava-se que o socorre em poucas horas chegaria e todo mundo seria transportado para as outras embarcações. O problema é que a proa do navio ficou tão pesada que ele começou a afundar mais rápido do que se esperava, fato esse que ele começou a se erguer até se partir ao meio.

Era 2h20 da madrugada de 15 de abril de 1912 quando o RMS Titanic afundou de vez. Para o espanto de todos, o maior navio de passageiros no mundo, naquele tempo, afundou rapidamente. E nem havia se passado três horas desde a colisão com o iceberg. Os que não conseguiram escapar, se afogaram. E os que haviam pulado no oceano com coletes salva-vidas ou não, morreram de frio devido a hipotermia. Alguns que estavam boiando, conseguiram nadar até os botes, mas a maioria não teve a mesma sorte. O resgate chegou duas horas depois com o RMS Carpathia.

Dos cerca de 2.224 pessoas a bordo, incluindo passageiros e tripulantes, mais de 1.500 morreram no naufrágio. O valor é incerto, pois a lista de passageiros estava desatualizada, a ponto de pessoas que cancelaram a viagem ou não embarcaram, constavam como ativas.

Os sobreviventes chegaram à Nova York em 18 de abril, sendo recebidos por uma multidão que os aguardava. A notícia do naufrágio do Titanic se espalhava pelo mundo, tornando-se até hoje a maior tragédia naval com um navio de passageiros.

Referências

BUTLER, Daniel Allen. Unsinkable: The Full Story of RMS Titanic. Mechanicsburg: Stackpole Books, 1998.

CHIRNSIDE, Mark. The ‘Olympic’ Class Ships: Olympic, Titanic & Britannic. Stroud: Tempus, 2004.

WARD, Greg. The Rough Guide to the Titanic. Londres: Rough Guides Ltd, 2012.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 57
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