Trata-se de um famoso quadro em xilogravura feito pelo artista japonês Katsushika Hokusai (1760-1849), um dos mestres do estilo ukiyo-e, um estilo de arte popular entre os séculos XVII e XIX no Japão, destinado as elites. Tais quadros apresentavam cores vívidas e cenas em movimento, por isso ukiyo-e significa “retratos do mundo flutuante”, uma alusão a sensação de movimento nas pinturas. Os temas abordados por esse estilos variavam entre cenas do cotidiano, peças de teatro, paisagens da natureza, acontecimentos mitológicos ou lendários.
Embora esse quadro seja famoso por apresentar um mar revolto num dia nublado, com grandes ondas que assolam dois barcos e ao fundo temos uma montanha com pico nevado, curiosamente o foco dessa pintura não era o mar em cima, mas a montanha, a qual se trata do vulcão Monte Fuji, a mais famosa montanha do Japão, possuindo inclusive um valor sagrado no Xintoísmo, a religião autóctone do país.
Hokusai no começo da década de 1830 realizou uma série de gravuras baseadas em retratar o Monte Fuji, chamando essa série de Trinta e seis vistas do Monte Fuji (Fugaku Sanju-Rokkei). A ideia era apresentar essa importante montanha sob diferentes perspectivas, cores, estações do ano, condições climáticas etc. Assim, ele decidiu retratar o Monte Fuji visto a partir do mar de Kanagawa, durante um dia nublado e de ondas altas, assim surgiu o quadro Kanagawa-oki Nami Ura (“Sob a onda de Kanagawa”), que popularmente ficou conhecido como a “grande onda de Kanagawa”. O qual consiste numa pintura em xilogravura medindo 24 cm por 36 cm, fazendo uso principalmente do azul, branco e cinza, destacando-se a condição que o autor utilizou o pigmento azul da Prússia, na época em moda na Europa. Além disso, os traços das ondas são característicos do estilo de Hokusai, visto até em outros de seus trabalhos.
Apesar de ter sido apenas mais uma entre tantas obras dessa série, o quadro da grande onda acabou décadas depois a morte do artista, se tornando uma de suas pinturas mais famosas graças as várias cópias feitas e o interesse dado por outros artistas que eram fãs do trabalho de Hokusai e por colecionadores estrangeiros, o que permitiu que cópias originais (pois os quadros eram impressos) fossem levadas para outros países, havendo hoje exemplares no Museu Britânico, no Museu de Arte de Amsterdã, no Museu Metropolitano de Arte em Nova York, entre outros. Dessa forma, por quase duzentos anos, o mar revolto de Kanagawa vem inspirando vários artistas pelo mundo.
Referências
WESTON, Mark. Giants of Japan: The Lives of Japan’s Most Influential Men and Women (em inglês). [S.l.]: Kodansha America, 2002.