A bússola giroscópica

Atualmente versões da bússola giroscópica, ou girocompasso, ou agulha giroscópica (como chamada em termos técnicos) ainda hoje são…

Atualmente versões da bússola giroscópica, ou girocompasso, ou agulha giroscópica (como chamada em termos técnicos) ainda hoje são utilizados, além de que o próprio giroscópio é normalmente utilizado de diferentes formas, sendo encontrado em navios, submarinos, aviões, helicópteros, drones, satélites, smartphones, videogames, etc. Porém, o emprego inicial dos giroscópios foi para aulas teóricas de física, mas também para a navegação.

No final do século XIX a era dos navios de madeira estava chegando ao fim, e cada vez mais o uso de navios de aço era algo comum. Todavia, um problema surgiu com isso, a grande quantidade de ferro usada no fabrico do aço, começou a gerar interferência magnética nas bússolas (ou agulhas magnéticas), alterando sua indicação para o Norte, e em alguns casos até mesmo fazendo a bússola ficar desregulada. No entanto, uma solução para isso demorou muitos anos para surgir.

No ano de 1885 o engenheiro naval Marinus Gerardus van der Bos inventou a bússola giroscópica (agulha giroscópica), ao unir uma bússola com um giroscópio, aproveitando as qualidades de manutenção do direcionamento do giroscópio. A ideia era que isso pudesse auxiliar a corrigir o problema causado pelo excesso de magnetismo gerado pelos navios de aço, corrigindo as oscilações da agulha magnética. No entanto, sua bússola não era eficiente, apresentando alguns problemas. E a solução desses problemas tardou a ser resolvida.

Em 1904 o inventor alemão Hermann Anschütz-Kaempfe apresentou sua versão da bússola giroscópica, sendo testado no navio Undine, no fiorde Kiel. Porém, durante o teste, o instrumento apresentou oscilações drásticas devido as ondas, o que significava que num mar revolto ele falharia totalmente. Anschütz-Kaempfe voltou a prancheta de protótipos, porém, em 1905 ele fundou a Anschütz & Co. KG para produzir instrumentos náuticos e outros produtos. Mas, ele não era o único a estudar as propriedades da bússola giroscópica.

Nos Estados Unidos, o inventor Elmer Ambrose Sperry (1860-1930), vinha algum tempo estudando bússolas e giroscópios. Em 1908 ele patenteou sua versão de bússola giroscópica e fundou a Sperry Gyroscope Company em 1910, para produzir o instrumento, visando no caso, contratos de exclusividade com a marinha americana. E a ideia deu certa. Naquele mesmo ano Anschütz-Kaempfe patenteou nova bússola. Por conta disso, alguns historiadores consideram que ambos sejam co-inventores da bússola giroscópica. Mas outros estudiosos consideram que cada um trabalhou em versões diferentes, além de que Bos já tinha criado o instrumento vinte anos antes.

Em 1911 Sperry conseguiu permissão de instalar suas bússolas em navios para fazer testes. O primeiro foi um navio mercante chamado Princess Anne, que zarpou de Nova York para Hampton Roads, na Virginia. O experimento foi exitoso. Outra bússola giroscópica dessa vez foi instalada num navio de guerra, o USS Delaware BB-28. Tendo sido o primeiro navio militar estadunidense a testar a nova bússola. O experimento também deu certo e Sperry conseguiu o almejado contrato de exclusividade com a Marinha.

Do outro lado do Atlântico, Anschütz-Kaempfe testou sua bússola giroscópica no navio de guerra Moltke, obtendo sucesso também. Em 1913 o navio de passageiros Imperator, passou a utilizar seu invento, e no ano seguinte, sua companhia ganhou o contrato de exclusividade para produzir bússolas para navios de viagem, carga e guerra.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) vários navios de guerra, tanto dos Estados Unidos, quanto da Alemanha e de outros países, fizeram uso de bússolas giroscópicas, fossem desenvolvidas por Sperry ou Anschütz-Kaempfe, ou por outros fabricantes. Além disso, a guerra também foi um laboratório para aperfeiçoar tais bússolas, as quais ainda apresentavam problemas, além de desenvolver outros equipamentos de orientação naval, especialmente os para orientar o lançamento de projéteis e torpedos.

Referências bibliográficas:

GADE, Kenneth. The Seven Ways to Find Heading. The Journal of Navigation, v. 69, n. 5, 2016, p. 955-970.

ILLY, Józef. The Pratical Einstein: Experiments, patents, inventions. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2013.

TRAINER, Matthew. Albert Einstein’s expert opinions on the Sperry vs Anschütz gyrocompass patent dispute. World Patent Information, v. 30, n. 4, 2008, p. 320-325.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

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