A ilha de Santa Helena: o fim de Napoleão Bonaparte

Em 2021 completaram-se 200 anos da morte de Napoleão Bonaparte (1769-1821), um dos mais famosos generais e monarcas da História,…

Em 2021 completaram-se 200 anos da morte de Napoleão Bonaparte (1769-1821), um dos mais famosos generais e monarcas da História, considerado por alguns como um grande líder ou um cruel tirano. Um homem visionário na guerra, e de grande ambição na política. Napoleão soube galgar posições na hierarquia militar e através de três golpes de Estado, assumiu o governo da França em momentos distintos, até que a partir de 1804, ele passou a governar como imperador dos franceses, dando início a sua grande ambição de conquistar a maior parte da Europa, criando um império francês continental.

Apesar da sua megalomania como imperador, suas afamadas conquistas e expedições militares, suas derrotas na Rússia, Alemanha e para os ingleses, Napoleão conseguiu em poucas décadas criar um cenário turbulento pela Europa, afetando vários países e milhões de pessoas, fato esse que a própria história de Portugal e do Brasil se estreitaram devido aos exércitos napoleônicos que conquistaram a Espanha e invadiram Portugal, levando a corte lusitana migrar para o Rio de Janeiro, em 1808, mudando para sempre a história da colônia brasileira.

No entanto, Napoleão após várias vitórias, derrotas, tentativas de assassinato, viagens, o exílio em Elba (1814-1815) e a fuga dessa ilha, o retorno à França e o governo dos 100 dias (1815), a famigerada derrota na Batalha de Waterloo (1815), Napoleão viu que seus sonhos imperiais tinham definitivamente chegado ao fim. Com isso, o monarca desmotivado com seu exército e autoridade enfraquecidos, decidiu se sujeitar aos termos dos ingleses novamente, no que resultou mais uma vez num exílio político. Mas ao invés de ser encaminhado à ilha de Elba na Itália, o Parlamento Inglês decidiu enviá-lo para mais longe da Europa, para a ilha de Santa Helena, quase no meio do Atlântico Sul.

A ilha de Santa Helena teria sido descoberta no ano de 1502 pelo navegador galego João da Nova (c. 1460-1509), que trabalhava para o governo português, o qual comandou uma pequena expedição de três naus para ir às Índias. A expedição de Nova partiu ainda em 1501 e seguiu ao Brasil, permanecendo alguns dias por lá e depois cruzou o Atlântico. Em 13 de maio de 1502 uma ilha foi avistada, sendo nomeada de Ilha da Concessão (atual Ascensão), posteriormente no dia 21 de maio, outra ilha foi avistada, e nomeada de Santa Helena, devido ao dia litúrgico da santa ser naquela data. Depois disso a expedição de Nova seguiu para o Cabo da Boa Esperança e de lá tomou rumo para Madagáscar e depois a Índia.

Entretanto, outros cronistas do século XVI, apontam que a ilha de Santa Helena teria sido descoberta por Estêvão da Gama em 1503, ou por Francisco de Almeida em 1505. Independente da data exata, a ilha era desabitada e tornou-se nos anos seguintes, parada para os navios que cruzavam o Atlântico entre o Brasil e Angola, já que ela dista mais de mil quilômetros do território angolano. Assim, os portugueses passaram a controlar aquela ilha e as ilhas vizinhas por mais de cento e cinquenta anos, quando a Companhia Britânica das Índias Orientais tomou posse do local em 1658. Em 1815 o governo inglês passou a administrar a ilha e para lá Napoleão seria enviado.

Após ser derrotado na Batalha de Waterloo (16-19 de junho de 1815), Napoleão Bonaparte retornou para Paris e passou as 72 horas seguintes bastante apreensivo, pois as chances de manter uma resistência ao avanço do exército inglês eram difíceis e isso poria em risco a capital francesa em ser alvo de um cerco. Pressionado por isso e outros problemas que o cercavam, no dia 22 de junho, Napoleão dirigiu-se a Câmara de Paris e apresentou seu pedido de abdicação, mas solicitando que seu filho, Napoleão II fosse feito seu sucessor, todavia, os deputados aceitaram a abdicação, mas negaram a sucessão, pois o governante por direito era Luís XVIII, deposto por Bonaparte.

Frustrada suas tentativas de assegurar o trono para seu filho, Napoleão retirou-se com a família para o Chateau de Malmaison, onde esperou por alguns dias pelas ordens dos ingleses, os quais exigiram sua prisão, mais uma vez. Em julho, abordo do HMS Bellerophon, ele viajou para Londres. Ironicamente o navio que o transportou era nomeado em homenagem a Belerofonte, o herói grego que cavalgando Pégaso, matou o temível monstro Quimera e realizou outras façanhas bélicas, no entanto, Belerofonte decidiu voar ao topo do Olimpo para gabar-se aos deuses de seus feitos, e assim as divindades o puniram por sua arrogância, derrubando-o de Pégaso e tornando sua vida uma miséria. De certa forma, Napoleão equiparou-se ao mítico herói naquela situação.

Após ser sentenciado no Parlamento, ele foi enviado abordo do Northumberland para ir à Santa Helena. Na ocasião, sua esposa e filho não o acompanharam, na prática, ele nunca mais viu nem eles nem seus demais parentes. No entanto, seu velho amigo Bertrand e a família, os camareiros reais Montholon e Lascases, o general Gourgaud e sua família, e doze criados, o acompanharam na viagem e viveram algum tempo na ilha.

Chegando em Santa Helena, ele ficou em prisão domiciliar na Longwood House, uma casa que pertencia a Família Balcombe, os quais tornaram-se amigos do ex-imperador. A nova residência era bem humilde comparada ao fato de que ele viveu em luxuosos palácios nos últimos anos e o fato de que em seu exílio em Elba, ele morou num casarão. Mas agora Napoleão vivia numa casa boa, mas considerada por ele, imprópria para um ex-monarca. Apesar de suas reclamações ao governo inglês, sua prisão domiciliar não foi alterada.

Sob vigilância do governador Hudson Lowe e seus homens, Napoleão Bonaparte levou uma vida tranquila e monótona naquela ilha, afastado de sua família e amigos, já que com o tempo aqueles que o acompanharam foram embora. Ele aproveitou para redigir cartas e suas memórias, as quais foram publicadas em 1823.

Em 1818, a mãe de Bonaparte tentou solicitar que o filho fosse preso num local mais próximo da Europa, para que pudesse ser visitado, mas o Parlamento Britânico negou-se. Em 1819, Napoleão começou a apresentar problemas no fígado, no ano seguinte, ele passou a ter dores intestinais regulares e seu semblante era de um homem doente. Em 1821 seu estado de saúde já era grave, até que ele faleceu aos 51 anos, em 5 de maio daquele ano, acompanhado pelo médico e amigos locais. Seu corpo permaneceu na ilha até 1840, quando o rei Luís Felipe da França ordenou que os restos mortais fossem levados para Paris, onde permanecem até hoje.

REFERÊNCIAS

MARKHAN, F. M. H. Napoleão e o despertar da Europa. Tradução de Affonso Blacheyre. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1963. (Coleção Homens que fizeram época).

NICOLSON, Nigel. Napoleão: 1812. Tradução de Henrique de Araujo Mesquita. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1987.

RIVOIRE, Mario. The Life & Times of Napoleon. Philadelphia, Curtis Book, 1967.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 57
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