Corsários, Caixas “Misteriosas”, e a Batalha do Atlântico – Parte II

Dando continuidade à nossa postagem anterior, agora apresento a vocês o desfecho desta História. Como vimos anteriormente, os alemães…

Dando continuidade à nossa postagem anterior, agora apresento a vocês o desfecho desta História. Como vimos anteriormente, os alemães tentavam desesperadamente retornar à Europa, com navios e recursos importantes que iriam alimentar sua cambaleante indústria bélica. A carga preciosa estava nos porões de Navios-Mercantes disfarçados. Estes Blockade Runners tentariam ultrapassar o Atlântico Sul a toda a velocidade, evitando contato com o inimigo.

Na virada entre os anos de 1943 e 1944, os três navios alemães, o “MV Rio Grande”, o “Weserland” e o “Burgenland” adentraram o Oceano Atlântico vindos do Sudeste Asiático e navegavam entre a costa do Nordeste brasileiro e as Ilhas Ascenção, localizadas a aproximadamente 1.400 milhas náuticas (2.253 km) do Extremo Oriental das Américas (Ponta dos Seixas, PB). Foi neste momento que a sorte dos alemães teve fim. Eles estavam navegando em águas muito bem vigiadas e patrulhadas pelas Forças Aéreas e Marinhas do Brasil e dos Estados Unidos.

Desde agosto de 1942, o Brasil havia declarado guerra à Alemanha e à Itália e a costa do Nordeste brasileiro passou a abrigar grande contingente militar conjunto: os Estados Unidos através de um acordo, haviam ocupado bases aéreas, tanto em Fortaleza (CE), Natal (RN) (Parnamirim) e Recife, Pernambuco. De lá, aviões de guerra patrulhavam o Atlântico Sul visando destruir os temidos U-Boats (submarinos alemães) ou qualquer outra embarcação de guerra do Eixo.

Assim que adentraram águas brasileiras, os aliados interceptaram os navios. Segundo consta, os Corsários navegavam separados e sem fazer parte de nenhum comboio, uma atitude nada comum a qualquer navio mercante aliado que navegava na época pelo Atlântico para evitar ataques de submarino. Navegar em separado era uma estratégia: caso um fosse pego, os demais poderiam ter alguma chance de escapar pois os aliados estariam ocupados com um deles.

Segundo o Almirante Ingram, em entrevista dada à imprensa brasileira, sobre o ataque quase um mês depois, os artilheiros dos navios alemães abriram fogo com as baterias antiaéreas, afugentando as aeronaves dos EUA, que ainda assim, mantiveram contato com o inimigo a distância, informando sua posição aos navios de superfície que agora, rumavam a seu encontro. Naquele momento, o porto do Recife abrigava a Base Fox, um complexo militar dos Estados Unidos no Nordeste que era responsável por sediar e abastecer a 4ª Frota dos EUA, sob comando do Almirante Ingram. Imediatamente, navios de guerra foram despachados para interceptar os navios alemães antes que eles fugissem. Eram eles: o Cruzador leve USS Omaha e os Destroyers USS Jovett e USS Somers.

Não havia escapatória: o destino dos navios alemães estava selado no momento em que os navios de guerra dos Estados Unidos os alcançaram. A Revista Marítima Brasileira, em artigo do mês de fevereiro de 1944 também divulgou as notícias relativas ao ataque quase um mês depois. Mas porque esta demora na divulgação das ações? Em tempos de guerra, era importante manter em sigilo e evitar vazamento de informações de forma precipitada e empolgada para o público geral logo após os eventos no mar. Era de conhecimento geral que haviam espiões alemães no Brasil e os chamados Quintacolunas (simpatizantes do Eixo) e a notícia de um ataque a navios de superfície poderia ser interceptada, levando o Auto Comando alemão a designar U-Boats imediatamente para a área em questão.

Na ação descrita, o destroyer USS Somers afundou o MV Weserland com tiros de seus canhões, quando este tentou em vão fugir. Sua tripulação abandonou o navio e foi resgatada. Já os MV ”Rio Grande” e ”Burgenland” foram “afundados por suas próprias tripulações”, através da implantação de cargas de detonação em seus porões.

Os navios americanos, ao verem fumaça do convés dos navios alemães, perceberam que tratavam-se de detonações e imediatamente abriram fogo. Em meio a este caos, logo em seguida, os alemães içaram baleeiras e botes salva-vidas. Consta que “ainda foram apreendidas na superfície grande quantidade de Borracha suficiente para fazer milhares de pneus de aviões…”. Toda esta borracha apreendida ainda na superfície era preciosa e foi enviada posteriormente aos Estados Unidos. Em seguida, os marujos alemães presos foram enviados para um “Campo de Concentração especial localizado na região Norte do Brasil”, com local não especificado.

Ao que podemos constatar, muita Borracha ainda permaneceu nos porões dos navios alemães, em especial do MV Rio Grande. Estes navios tinham boa velocidade e grande capacidade de deslocamento (6 a 7 mil toneladas). A borracha, que abasteceria a máquina de guerra nazista, caso chegasse ao seu destino, agora é motivo da atenção de curiosos e de pesquisadores ávidos a entender mais sobre estes fatos.

REFERÊNCIAS:

National Archives (EUA): https://www.archives.gov

Biblioteca Nacional (Brasil): http://memoria.bn.br/
wrecksite.eu

Bibliografia:

ROBINSON, Stephen. False Flags: Disguised German Raiders of World War II. Exisle Publishing, 2016.

NOPPEN, Ryan K. German Commerce Raiders 1914–18. Bloomsbury Publishing, 2015.

FORCZYK, Robert. German Commerce Raider vs British Cruiser: The Atlantic & The Pacific 1941. Bloomsbury Publishing, 2012.

FONSECA, Manoel Felipe Batista da. Base Fox: aspectos do estabelecimento e desenvolvimento da base naval da US Navy no Recife durante a campanha do Atlântico Sul (1941-1943). 2014. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.

George Henrique
George Henrique
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