Exposição virtual
Entre o sertão e o mar
POR Rogério Taygra
Na esquina da América do Sul, litoral setentrional do Rio Grande do Norte, ocorre o raro encontro do sertão com o mar. As altas temperaturas e os ventos intensos, combinado ao baixo volume anual de chuvas e as extensas planícies com solos impermeáveis, transformaram a região em um imenso evaporador natural, onde a água salgada trazida pelas marés evapora deixando para trás o sal precipitado no solo, formando salinas naturais.
A vocação natural da região possibilitou o desenvolvimento da produção de sal marinho, atividade que se tornou parte da economia e cultura do estado. Aos poucos, as salinas naturais foram sendo modificadas pelo homem, que foram construindo pequenos reservatórios divididos por diques de lama, onde a água do mar passou a ser represada, criando um cenário multicolorido formado por dezenas de pequenas salinas artesanais.
Devido ao aumento da demanda de sal pela indústria a partir da década 70, a maior parte das salinas artesanais foram substituídas por salinas mecanizadas. As pequenas lagoas deram lugar a enormes áreas alagadas, alimentadas não mais por cataventos, mas por potentes bombas elétricas. A colheita manual, incapaz de gerar a produtividade necessária, foi substituída por máquinas pesadas, e as pequenas pilhas de sal foram convertidas em enormes montes brancos que alimentam diversos segmentos da indústria nacional, dando ao Rio Grande do Norte o posto de maior produtor de sal marinho do país, e um dos maiores do mundo.
Ainda assim, mesmo diante dos desafios impostos pela concorrência com as salinas mecanizadas, em algumas comunidades do estado a salinicultura artesanal ainda resiste. São o registro vivo da história potiguar e do próprio Brasil, e uma prova da existência e resistência de homens e mulheres que trabalham de sol a sol transformando o seu suor em sal.