No dia 21 de Abril de 1972, fazendo parte do programa cívico previsto para a data, foi inaugurado o Farol do Cabo Branco, que dispondo de uma lanterna “AGA”, teria o alcance de 25 milhas náuticas, sendo o primeiro no Brasil que funcionaria com “energia comercial e mediante controle eletrônico”. Esse controle eletrônico permitiria o “perfeito funcionamento do farol”, que, caso sofresse uma pane elétrica, de imediato acionaria um sistema de baterias (Diário de Pernambuco, 1972, p. 11).
Abrindo parenteses, AGA se refere a uma companhia do Brasil, que era filial sueca da empresa fundada pelo engenheiro Nils Gustaf Dalén (1869-1937), cujos inventos científicos foram responsáveis por uma “considerável evolução para o desenvolvimento dos equipamentos de sinalização náutica dos faróis” (Venturella, 2006, p. 76).
O programa cívico supracitado tratou-se do Sesquicentenário da Independência do Brasil, a “maior festa cívica nacional realizada sob a ditadura”. O dia de Tiradentes foi o marco inicial das comemorações que se estenderam até o dia 07 de setembro.
Neste último dia, os despojos mortais de D. Pedro I, trasladados de Portugal, foram inumados ao lado da Imperatriz Leopoldina, na colina do Ipiranga, em São Paulo (Cordeiro, 2011, pp. 1-2).
Voltando para a parte técnica, o farol foi instalado em uma localização geográfica privilegiada, além de estar sobre uma falésia, que o coloca em um ponto mais elevado, aumentando o seu alcance. A sua instalação foi necessária, nas palavras do Comandante Tarcizo Sobreira – CPPB, porque “facilitaria o trânsito de navios, orientando-os melhor nas rotas” (Diário de Pernambuco, 1968, p. 23).
Atualmente
De acordo com a Lista de Faróis (2022-2023) da Marinha do Brasil, o Farol do Cabo Branco possui uma luz branca com lampejo simples de 1,2 segundos a cada 10
segundos. Ou seja, após o lampejo a luz entra em “eclipse” de 8,8 segundos, voltando a aparecer com um novo lampejo. Possuindo uma torre tronco piramidal triangular construída em alvenaria, de cor branca com uma faixa horizontal preta e tendo no “terço médio uma estrela de 3 pontas, de concreto armado”, o Farol do Cabo Branco possui um alcance luminoso de 27 milhas náuticas. O interessante é que esse valor do alcance luminoso só é possível devido a altitude de 46 metros. O histórico Farol da Pedra Seca tem alcance luminoso menor, atingindo 16 milhas náuticas.
A importância para a navegação transpõe fronteiras, uma vez que no Oceano, as mesmas não são visíveis. Assim como todos os faróis, ele é fundamental para a segurança da navegação marítima. Sendo assim, em termos gerais, o que o distingue dos demais, é a sua localização privilegiada, estando avançado, em termos continentais, sobre o Atlântico.
O formato
Há uma semelhança simbólica entre a estrela de 3 pontas e o sisal. O sisal foi durante muitas décadas um importante item de exportação da Paraíba. No ano da inauguração do Farol do Cabo Branco (1972), a exportação do sisal chegou a alcançar 44,72% do total de exportações, tendo sido um “elemento decisivo na geração de receitas tributárias para o Tesouro do Estado” (SOUSA, 1987, p.1). No final da década de 1970, o valor chegou a 80,46% das exportações do estado (SOUSA, 1987, p. 59).
Algumas curiosidades
Há alguns anos vemos com grande preocupação os deslocamentos nas falésias do Cabo Branco. Trabalhos, que visam mitigar o processo de erosão, estão sendo executados. Contudo, essa não é uma preocupação nova. Em 18 de Maio de 1976, foi publicada uma nota sobre o tema no Diário de Pernambuco (p. 6) sob o título “Erosão ameaça fundações do Farol do Cabo Branco instalado há quatro anos”. Já, naquela época, se falava em solicitar recursos financeiros e técnicos para a execução de obras mitigatórias.
Uma outra curiosidade foi que a placa usada na inauguração do Farol do Cabo Branco possuía um erro de informação nas coordenadas considerado grave. Para a latitude 07º 09’ 30” e para a longitude 34º 47’ 30” (Diário de Pernambuco, 1978, p. 10). A gravidade está na ausência de menção ao hemisfério. Quando nos referimos a latitude, devemos indicar N para o norte e S para o sul, bem como, quando falamos de longitude, precisamos usar o E para leste e o W para oeste.
FONTES
CORDEIRO, Janaina Martins. As comemorações do Sesquicentenário da Independência em 1972: uma festa esquecida? In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho de 2011.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Obras do Farol na ponta do Cabo Branco vão ser iniciadas. 12 de Set. 1968. 24 f., p. 10. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/029033_14/62899 . Acesso: 03 abr. 2022.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Cabo Branco terá farol de controle eletrônico. 14 de Abr. 1972. 30 f., p. 11. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/029033_15/26545 . Acesso: 03 abr. 2022.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Ponta do Seixas. 24 de Mai. 1978. 42 f., p. 10. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/029033_15/117853 . Acesso: 03 abr. 2022. MARINHA DO BRASIL. Lista de Faróis 2022-2023. Disponível em: https://www.marinha.mil.br/chm/dados-do-segnav-publicacoes/lista-de-farois . Acesso: 03 abr. 2022.
SOUSA, Marta Lúcia. A produção de sisal na Paraíba: o município de Cuité: um estudo de caso. 1987. 146f. (Dissertação de Mestrado em Economia Rural e Regional), Programa de Pós-graduação em Economia Rural e Regional, Centro de Humanidades, Universidade Federal da Paraíba – Campus II – Campina Grande – Paraíba – Brasil, 1987.
VENTURELLA, Roberto. A história do Farol de Torres. Editora AGE Ltda, 2006.