Navio-fantasma: o Holandês Voador

Neste dia de Halloween, ou equivocadamente chamado de “Dia das Bruxas” nos países lusófonos, hoje trago uma história de fantasma, no…

Neste dia de Halloween, ou equivocadamente chamado de “Dia das Bruxas” nos países lusófonos, hoje trago uma história de fantasma, no caso, um navio-fantasma para ser mais preciso. Dentre os navios-fantasmas mais conhecidos entre as lendas marítimas está o Holandês Voador (De Vliegende Hollander) ou Holandês Errante, o qual consistiu num veleiro do tipo filibote (fluitschip), desenvolvido pelos holandeses no século XVI, para servir de navio cargueiro de longas distâncias. Entretanto, não se sabe ao certo quando a lenda desse navio teria surgido, mas pesquisas apontam que em algum momento do século XVIII ela pode ter aparecido, sendo mencionada em livros no final daquele século.

No caso, existem diferentes versões para que o Holandês Voador tenha se tornado um navio-fantasma. A seguir citei alguns exemplos.

O relato mais antigo conhecido sobre esse navio é citado brevemente no livro Travels in various part of Europe, Asia and Africa during a series of thirty years and upward (1790) de John MacDonald, escrevendo que um navio inglês avistou o Holandês Voador durante uma tempestade no Cabo da Boa Esperança (anteriormente chamado de Cabo das Tormentas).

No livro A Voyage to Botany Bay (1795), atribuído a George Barrington, que narra sua viagem da Inglaterra à Austrália, comenta sobre essa lenda, dizendo que o Holandês Voador teria naufragado durante uma tempestade próxima a Cidade do Cabo, na África do Sul, mas a tripulação tinha sido amaldiçoada por motivos desconhecidos, tornando-se almas penadas aprisionadas naquele navio-fantasma.

Segundo uma das lendas, o Holandês Voador era um navio cargueiro a serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais (Vereenigde Oost-Indische Compagnie – VOC), e teria zarpado para que se tornou sua última viagem, em 1680, tendo saído de Amsterdã. Entretanto, em determinado momento daquele ano, nas proximidades do Cabo da Boa Esperança, uma tempestade atingiu o local, e no caso era recomendado que os navios esperassem ela passar, pois “dobrar” o cabo durante a tempestade era tido como ato de azar, mas o capitão do Holandês Voador ignorou essa superstição e deu ordem para prosseguir viagem, e assim ele e sua tripulação foram amaldiçoados a vagar pelos oceanos e mares até o fim dos tempos.

Outra lenda diz que o navio-fantasma foi amaldiçoado, pois seu capitão chamado Willem van der Decken (ou Bernard Foke segundo outra versão) fez um pacto diabólico, para sempre ter uma viagem bem-sucedida sem sofrer interferência dos desígnios de Deus, o qual era tido como responsável por controlar a natureza. Por conta dessa ousadia, Deus teria punido a tripulação a vagar eternamente pelos oceanos, por isso que o navio também é referido como Holandês Errante.

Uma variação dessa lenda é narrada no livro The Phantom Ship (1839) do capitão Frederick Marryat, o qual diz que o capitão Decken era um homem ganancioso e sem escrúpulos, que em 1641, carregava ouro clandestino durante uma tempestade no Cabo da Boa Esperança, e ali ele e sua tripulação foram amaldiçoados.

A lenda desse navio-fantasma se popularizou no século XIX, inspirando escritores, poetas, dramaturgos, músicos e pintores a escreverem, comporem e pintarem a respeito, havendo muitas publicações desse período contando suas próprias versões sobre essa lenda.

Além disso, acrescenta-se que relatos de viagem do XIX, passaram a informar avistamentos desse navio no Atlântico, Índico, Pacífico, Mediterrâneo e em outros mares. Por sua vez, no século XX o navio tornou-se tema de filmes, livros, histórias em quadrinhos, desenhos e jogos, mostrando a popularidade que a lenda ainda possui após esses séculos.

REFERÊNCIAS

CLUTE, John; GRANT, John (eds). The encyclopedia of fantasy. New York: Macmillan, 1999.

JORGE, Carlos Jorge Figueiredo. Um Mito do Tráfico Marítimo e das Desventuras da Ambição. O Navio Fantasma, ou o Holandês Voador. Limite, n. 12, v. 2, 2018, p. 39-66.

YVANOFF, Xavier. Histoire de revenants – Les temps modernes. Paris: JMC, 2007.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

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