Mais uma vez, eles são notícia: os fardos de Borracha dos naufrágios alemães da II Guerra Mundial (1939-1945) voltaram a aparecer em nosso litoral. Também há relatos do aparecimento no litoral de Pernambuco e Rio Grande do Norte. Já falamos sobre a origem destes materiais e sobre as circunstâncias dos naufrágios dos navios alemães em postagens anteriores.
Após quase quatro anos dos primeiros aparecimentos, porém, uma grande quantidade deles volta a surgir nas praias desta parte do litoral do Nordeste brasileiro, despertando a curiosidade do público. A imprensa local, no entanto, continua tratando os fardos como “caixas misteriosas“. No entanto, não existe absolutamente mais nada de “misterioso” em torno dos objetos. São fardos com borracha que foi prensada e armazenada em folhas para facilitar o transporte nos porões dos navios em que ficaram quase 80 anos submersos.
Como sabemos, a razão pela qual os fardos vieram à superfície, se deve à ação de “piratas” subaquáticos. Os membros (as) do LABOMAR/UFC (Instituto de Ciências do Mar) da Universidade Federal do Ceará através de fontes estrangeiras, confirmaram que estes “piratas” estariam violando os cascos dos navios em busca de metais valiosos, como Estanho, pelo seu atual valor alto no mercado internacional. O rompimento dos porões fez com que grande parte da carga de borracha (material leve) subisse à superfície e, com as correntes marítimas, chegassem ao litoral do Nordeste.
Seria mesmo o Rio Grande a origem dos novos fardos?
Como resultado destas ações praticadas em águas internacionais desde 2018, os fardos vem chegando às praias do Nordeste brasileiro, do Ceará, passando pela Paraíba até a Bahia. Mas a indagação atual que faço é: teria sido o naufrágio do navio MV Rio Grande (um dos mais profundos do mundo) vasculhado novamente? Ou estes novos fardos estariam vindo do naufrágio do MV Burgenland? Lembrem-se que em janeiro de 1944, a Marinha dos Estados Unidos, com auxílio da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil, afundaram três navios forçadores de bloqueio alemães: o Rio Grande, o Burgenland e o Weserland. Todos eles estavam carregados de Borracha que seria usada no esforço de guerra da Alemanha Nazista.
Para descobrir as origens da ”nova onda” de fardos de Borracha, defendo que uma nova investigação seja realizada, a começar pelos próprios fardos. Nos primeiros achados entre 2018 e 2019, constatou-se que haviam marcas da Indochina Francesa (comprovou-se em seguida, que eram do MV Rio Grande). Na segunda onda de fardos, que parou entre os litorais da Bahia e de Alagoas, os fardos vieram com escritas em kanji (idioma japonês), sendo sua origem comprovada como do MV Weserland (que havia zarpado de Yokohama no Japão). A imprensa paraibana recentemente, afirmou que alguns dos fardos encontrados entre João Pessoa e Cabedelo, tinham inscrições e mesmo placas metálicas em alemão. Domingo último, estive pessoalmente entre João Pessoa e Cabedelo, e encontrei um deles. Tive a oportunidade de verificá-lo e tomar algumas fotografias. Era pesado, acredito que tinha em torno de 60 a 70 kgs de peso.
Infelizmente, grande parte dos fardos que chegam às nossas praias, estão sendo descartados como lixo pelos moradores, (a meu ver, uma atitude equivocada), e que pode fazer com que muitas informações preciosas sejam perdidas. Também há pessoas que estão cortando os fardos na esperança de encontrar ”tesouros” que não existem. É fundamental que os órgãos públicos e mesmo as pessoas tenham a consciência de enviá-los a locais reservados para serem devidamente investigados. Também defendo como Historiador, que alguns deles, sejam enviados ao Museu da Cidade de João Pessoa, pois tratam-se de fontes históricas, objetos com quase 80 anos de idade e que são também relíquias do tempo da II Guerra Mundial.
Você quer saber mais?
Acesse as postagens anteriores sobre o tema nos links disponíveis abaixo:
I – “Corsários”, “Caixas Misteriosas” e a Batalha do Atlântico – Parte I https://www.museuexea.org/post/cors%C3%A1rios-caixas-misteriosas-e-a-batalha-do-atl%C3%A2ntico-parte-i
II – “Corsários”, “Caixas Misteriosas” e a Batalha do Atlântico – Parte II https://www.museuexea.org/post/cors%C3%A1rios-caixas-misteriosas-e-a-batalha-do-atl%C3%A2ntico-parte-ii
III – O afundamento do MV Weserland e as “Caixas Misteriosas” no litoral do Nordeste: um novo capítulo https://www.museuexea.org/post/o-afundamento-do-ss-weserland-e-as-caixas-misteriosas-no-litoral-do-nordeste-um-novo-cap%C3%ADtulo
IV – O afundamento do MV Weserland. Atlântico Sul, Janeiro de 1944 https://www.museuexea.org/post/o-afundamento-do-ss-weserland-atl%C3%A2ntico-sul-janeiro-de-1944