Os piratas do Caribe

O tema é bastante famoso hoje em dia por conta da franquia de filmes Pirates of the Caribbean (2003-2017) da Walt Disney, o jogo…

O tema é bastante famoso hoje em dia por conta da franquia de filmes Pirates of the Caribbean (2003-2017) da Walt Disney, o jogo Assassin’s Creed IV: Black Flag (2013) e a série Black Sails (2014-2017). Todavia, para além da ficção histórica, os piratas do Caribe realmente existiram. Embora que parte das histórias deles sejam envoltas em boatos e lendas, no entanto, a história da pirataria no Caribe remonta ao século XVI, quando essa região situada na América Central, passou a ser colonizada pelos europeus.

O Caribe é formado por centenas de ilhas, destacando-se Jamaica, Cuba, Haiti, República Dominicana, Porto rico, as Ilhas Cayman, as Antilhas e as Bahamas. Além disso, toda a região entre as ilhas maiores e o continente é chamada de Mar do Caribe, termo que advém dos povos Caraíbas que viviam naquelas terras. No caso, sublinha-se que os principais portos a mercê dos piratas eram Port Royal na Jamaica, Tortuga no Haiti e Nassau nas Bahamas. Inclusive tentou-se estabelecer uma “república de piratas” em Nassau, que em teoria seria um Estado livre do jugo britânico ou de outra nação.

Com o advento da colonização espanhola, depois francesa e inglesa, o Mar do Caribe tornou-se um local bastante próspero, principalmente devido aos canaviais e plantações de tabaco, mas também por ser rota de carregamentos de ouro e prata, advindos do México e do Peru, além de concentrar outros tipos de mercadorias como rum, madeira e especiarias. Tais mercadorias atraíram muitos negociantes, alguns interessados em negócios honestos, outros em contrabando e havia aqueles que simplesmente roubavam os produtos e os revendiam. No caso dos piratas (ou bucaneiros como eram referidos pelos franceses), eles agiam como ladrões, contrabandistas, mercenários, sequestradores, espiões, sabotadores, assassinos, entre outra variedade de atos criminosos.

A historiografia costuma registrar que a Era de Ouro da Pirataria no Caribe, ocorreu entre 1660 e 1730, período em que viveram os mais famosos piratas, além de que foram anos marcados por intensos conflitos contra esses criminosos. No entanto, a ideia de uma Era de Ouro não consistiu numa determinação dos historiadores, mas de uma invenção de escritores ingleses. O editor Charles Revington (1688-1742) publicou o livro Uma história geral dos roubos e crimes de piratas famosos, de autoria do capitão Charles Johnson (1724), o qual foi bem recebido na época, atiçando a curiosidade dos leitores por narrativas sobre piratas. E o interesse de deveu-se de um lado por conta da efervescência do período em se combater a pirataria, mas de outro lado, os piratas eram vistos de forma romanceada, como aventureiros fora-da-lei, algo visto com o Robin Hood, apesar de que os piratas não roubassem dos ricos para dar aos pobres.

Essa popularização sobre histórias de pirataria era tão marcante na Inglaterra do século XVIII, que o escritor Daniel Defoe (1660-1731), autor do famoso Robison Crusoé (1719), decidiu também investir em histórias sobre piratas, publicando A General History of the Pirates (1724-1728). Livro que também teve uma boa tiragem no período. As obras de Johnson e Defoe ajudaram a popularizar a literatura sobre piratas por mais de um século, fato esse que no final do século XIX, o escritor Robert Louis Stevenson lançou A Ilha do Tesouro (1883), uma das clássicas histórias de pirataria até hoje, inclusive responsável por instituir alguns estereótipos marcantes como a perna de pau, o tapa-olho, o baú do tesouro e o papagaio no ombro.

Mas se por um lado romances de pirataria alegravam o público inglês e posteriormente francês e espanhol, a realidade no Caribe era diferente. A força das metrópoles era pequena ao ponto que levou alguns países como a Inglaterra, a instituir as cartas de corso, criando o ofício do corsário, que a grosso modo, seria o “pirata legalizado”, sendo o mais famoso corsário conhecido, o inglês Sir Francis Drake (c. 1540-1596). Tal prática foi adotada pelos espanhóis e franceses, e o curioso é que os corsários estavam autorizados a pilharem navios e invadirem fazendas, vilas e cidades, desde que fossem de outra nação. Evidentemente que isso gerou problemas e confusão, pois piratas se tornavam corsários para serem protegidos por lei, mas por outro lado, quando a situação era desfavorável para os corsários, eles se tornavam piratas.

Todavia, quais foram os piratas famosos que o capitão Charles Johnson citou em sua icônica obra? Dentre eles destacam-se Henry Morgan (c. 1635-1688), Bartholomew Roberts (1682-1722), Stede Bonnet (1688-1718), Charles Vane (1680-1721), Edward “Ned” Low (c. 1690-1724), Benjamin Hornigold (?-1719) e Edward Teach, mais conhecido como Barba Negra (1680-1718), o mais famoso pirata do Caribe, cujas façanhas geraram lendas sobre grandes proezas. Tais piratas tiveram seus fins sendo enforcados pelo crime de pirataria, ou foram mortos em combate ou assassinados em motins.

Mas embora a pirataria fosse uma ocupação predominantemente masculina, houve alguns casos de mulheres piratas, sendo que duas delas foram destacadas na literatura e na historiografia: Anne Bonny (1702-1782) a qual conseguiu escapar de ser enforcada. No entanto, sua amiga Mary Read (1684-1721) não teve a mesma sorte, sendo enforcada. No caso, sublinha-se que em geral os piratas quando capturados e culpados por seus crimes, costumavam ser enforcados publicamente. Mesmo Read sendo mulher, isso não lhe poupou de tal execução.

Com a morte dos principais capitães piratas na década de 1720, a Era de Ouro da Pirataria no Caribe entrou em declínio, mas não significou que foi contida totalmente. A pirataria ainda por muito tempo foi uma atividade marítima vista como uma saída para distintos problemas sociais e econômicos, a tal ponto que estimasse que entre 1560 e 1830, milhares de homens tenham se dedicado as atividades da pirataria fosse para fugir do alistamento militar, ir atrás de promessas de riqueza, tentar fazer dinheiro fácil, ir em busca de aventuras, ou pela escravidão, já que a maioria dos piratas negros eram escravos ou ex-escravos, que temendo voltarem aos grilhões da escravidão, preferiam se tornar piratas.

Além disso, sublinha-se que em geral a maioria dos piratas morriam em poucos anos de atividade, sendo uma ocupação perigosa e com alto índice de mortalidade, apesar disso, muitos homens devido ao desespero, sonhos ou por outros motivos decidiram correr esse risco. Fato esse que a pirataria caribenha somente entrou em franco declínio a partir de 1830, quase dois séculos depois do início de seu auge.

REFERÊNCIAS:

COSTA, Nicássio Martins da. Uma história dos piratas: o princípio da construção do estereótipo do pirata caribenho que povoa o imaginário popular contemporâneo. I Encontro de Pesquisas Históricas (EPHIS) – PUORS, 2014. p. 1669-1682.

DEFOE, Daniel. Uma história dos piratas. Seleção e edição de Luciano Figueiredo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

ROCHA NETO, Nelson. Piratas e Corsários na Idade Moderna. Monografia (Graduação em História), Universidade de Tuiuti do Paraná, 2009.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

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