Repatriação e troca diplomática durante a II Guerra Mundial: A segunda ousada viagem do Gripsholm

Na primeira postagem desta série, falamos a respeito da repatriação e da troca diplomática durante a II Guerra Mundial, e de como esta…

Na primeira postagem desta série, falamos a respeito da repatriação e da troca diplomática durante a II Guerra Mundial, e de como esta era uma atividade extremamente importante e, ao mesmo tempo, perigosa.

Como já sabemos, o Oceano Atlântico estava infestado de submarinos inimigos, e um descuido em relação às características estéticas do navio poderia significar a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas.

Assim sendo, o Gripsholm, navio de passageiros de bandeira sueca, foi enviado através do Atlântico para o oceano Índico, onde realizou com sucesso, sua primeira missão de troca diplomática. Porém, era apenas a primeira de muitas longas viagens ousadas pelo Atlântico.

Na imagem acima, podemos observar as características estéticas do navio, que como sabemos, fazia parte de um acordo entre as potências beligerantes. O navio estava pintado de branco, com as cores nacionais da Suécia (amarelo e azul escuro) pintadas em formas verticais no costado. No meio do navio, a bandeira sueca estava pintada, entre as palavras GRIPSHOLM – SVERIGE (Suécia em sueco). Acima deles, o nome DIPLOMAT fazia referência ao fato de que ali, estavam elementos diplomáticos que seriam trocados.

Também podemos perceber além dessas características, as suas duas chaminés com as três coroas pintadas (armas nacionais da Suécia). Não bastasse toda esta caracterização, o navio sueco, quando navegava à noite, deveria estar com seu convés todo iluminado, permitindo assim seu reconhecimento por qualquer unidade militar. O navio também jamais poderia navegar em ”zigue-zague”, que é uma tática utilizada para evitar torpedos. Se alguma dessas características ou comportamento do navio estivesse fora do padrão, poderia ser atacado sem aviso. Felizmente, o Gripsholm nada sofreu, e o navio seguiu sem problemas em sua segunda viagem de repatriação, ainda que com grande ansiedade e tensão das pessoas a bordo.

No dia 2 de setembro de 1943, os Gripsholm partiu de Nova Iorque (EUA), para sua segunda longa viagem. A bordo, levava 1330 japoneses. Além dos japoneses que residiam nos EUA, o navio sueco ainda teria suas paradas antes de adentrar o Índico: primeiro, no Brasil, (Rio de Janeiro) e em seguida, em Montevidéu (Uruguai), onde embarcariam mais civis japoneses. Desta vez, o porto escolhido para a transferência estava mais distante: tratava-se da cidade de Mormugão (Goa), na costa ocidental da Índia, um antigo entreposto comercial controlado pelos portugueses. Sua estimativa de chegada era no dia 15 de outubro.

Além dos civis a bordo, o Gripsholm também carregava suprimentos fornecidos pela Cruz Vermelha Internacional pelos Estados Unidos e pelo Canadá. Os suprimentos consistiam de: medicamentos, alimentos em conserva, vitaminas e plasma de sangue. Estes itens deveriam ser enviados para campos de prisioneiros onde militares aliados de diferentes nacionalidades encontravam-se sob custódia japonesa. Ao mesmo tempo, zarpava do Japão o navio Teia Maru, com 1500 ocidentais a bordo, entre americanos, canadenses, ingleses e de outras nacionalidades o continente americano.

Em 23 de setembro, após uma estadia curta em Montevidéu, o Gripsholm atravessou o Atlântico Sul em direção ao Índico. Antes, o navio fez uma breve pausa em Port Elizabeth, na África do Sul, para receber suprimentos, em águas infestadas com minas aquáticas anti-submarino instaladas pelos britânicos. Passada esta etapa, o navio seguiu viagem. No caminho rumo a Mormugão na Índia, uma tragédia ocorreu: um dos japoneses que deveria ser repatriado na Índia, saltou do navio. Horas preciosas foram gastas pela tripulação sueca para encontrar o cidadão japonês. Os dias estavam terrivelmente ensolarados e as águas infestadas de tubarões.

Infelizmente, o homem jamais foi visto novamente. Ao chegar em Mormugão, durante a troca diplomática, a ausência deste cidadão japonês causou um grande problema, pois o acordo previa que o número exato de pessoas deveria ser trocado e corresponder à listagem para que a operação fosse bem-sucedida. Os japoneses foram irredutíveis: um dos ocidentais deveria permanecer prisioneiro, e assim aconteceu. Um oficial americano ofereceu-se para retornar ao cativeiro, e assim, graças ao seu sacrifício, a troca pode ser realizada com sucesso.

De acordo com os relatos, centenas de americanos, canadenses, cidadãos de Hong Kong, e de outras nacionalidades americanas, desceram do Teia Maru, e seguiram a pé pelo porto até o Gripsholm. Neste processo, eles, junto com os japoneses, auxiliaram no transporte de cargas e malas pessoais de um navio para o outro, um ato de cooperação improvável naquele contexto de guerra.

Assim, o Gripsholm , o “navio da misericórdia”, cumprira mais uma perigosa missão, e retornou aos Estados Unidos (Nova Iorque) em 1º de dezembro de 1943. Em seu retorno, muito festejado, o jornal New York Times escreveu:

[…] “Todos gostamos dele (Gripsholm). Ele é um navio feliz. Nenhum outro jamais trouxe de volta para casa passageiros mais felizes”

Fontes:

https://www.salship.se/mercy.php

https://commons.wikimedia.org/

https://blogs.cul.columbia.edu/

George Henrique
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