O Canal do Panamá é uma das maravilhas da engenharia do século XX, sendo resultado de décadas de obras que pararam várias vezes, apesar que seu projeto tenha começado no XIX e até considerado tempos antes. Hoje o canal é a via aquática que conecta oceanos, mais movimentada do mundo, recebendo anualmente milhares de embarcações. Mas antes de sua construção o tempo de viagem do Atlântico para o Pacífico levaria meses.
Para se ter uma ideia, um navio que partisse de Nova York para San Francisco, ou vice-versa, teria que percorrer 13 mil milhas náuticas (mais de 20 mil quilômetros), porém, com a construção do Canal do Panamá, essa distância foi reduzida para 5 mil milhas náuticas (8.047 quilômetros).
A ideia para construir esse canal partiu principalmente de interesses político-econômicos. Na época colonial o governo espanhol tomou conhecimento sobre estradas indígenas que iam da costa atlântica à costa pacífica, atravessando a América Central. Porém, não existia tecnologia naquele tempo para construir um canal. Por sua vez, no século XIX, os franceses construíram uma estrada de ferro que ligava a cidade do Panamá a cidade de Cólon. A partir desse interesse, o governo francês decidiu construir um canal naquele país.
O renomado engenheiro Ferdinand de Lesseps (1805-1894), que havia ganho fama por ter projetado o Canal de Suez no Egito, foi contratado para fazer o projeto do canal panamense, iniciando as obras em 1881 com a empresa Compagnie Universelle du Canal Interoceánique de Panama. As obras eram previstas para durarem dez anos, mas sofreram uma série de atrasos como surtos de malária e febre amarela que vitimavam os operários, um terremoto em 1882, maquinário quebrado, atraso de verbas etc. Além disso, o projeto feito por Lesseps descartou o uso de eclusas, optando-se em nivelar todo o terreno, o que demandava mais trabalho.
Em 1888 estourou o Escândalo do Panamá, uma série de denúncias feitas a Compagnie Universelle du Canal Interoceánique de Panama por superfaturamento, desvio de verbas, improbidade administrativa, falta de licenças etc. Isso gerou uma crise na companhia que quase levou ao seu fim, apesar que o processo judicial durou alguns anos. Lesseps foi demitido do cargo de engenheiro-chefe e substituído por Philippe-Jean Bunau-Varilla (1859-1940), que enfrentou dificuldades para manter as obras devido ao corte de gastos, levando as obras serem suspensas por alguns anos.
Nesse meio tempo, Estados Unidos e Inglaterra em 1893 propuseram construir o Canal da Nicarágua em oposição ao projeto francês. O valor seria dividido entre ambas as nações, mas os custos da construção e outros detalhes não chegaram a um acordo, e o projeto foi engavetado. Já os franceses conseguiram retomar as obras do canal panamense em 1895, quando começaram a escavar o Monte Culebra, todavia, nos anos seguintes o trabalho voltou a ser suspenso.
Em 1903 o governo americano ofereceu ao governo panamenho um acordo de concluir as obras do canal, já que os franceses desistiram do projeto após quinze anos de trabalho. Assim resultou o Tratado Hay-Burnau-Varilla, no qual estipulava que o governo dos Estados Unidos se comprometia em concluir o canal, mas teria direito de administrá-lo e cobrar pedágio. Por sua vez, parte do lucro recebido seria revertida aos cofres públicos panamenses.
Firmado o tratado as obras retornaram em 1904, mas se mostraram mais demoradas do que o previsto. Apesar do avanço dos franceses, ainda faltava muito a ser feito. Com isso houve-se mudanças no projeto, passando a conectar o canal a lagos, além de incluir o sistema de eclusas para permitir a troca de nível em relação ao nível do mar e o nível dos lagos. Assim, somente a partir de 1909 é que as eclusas começaram a serem construídas.
As obras do canal se estenderam até 1914, apesar que em 10 de outubro de 1913 o presidente americano Woodrow Wilson participou de uma cerimônia solene na Casa Branca, dando comando para encher o canal. Apesar disso, foi necessário meses ainda para finalizar as obras, especialmente a parte técnica de operação das eclusas e bombas hidráulicas. Assim, oficialmente o canal foi inaugurado em 15 de agosto de 1914, sendo o navio de passageiros SS Ancon, a primeira embarcação a cruzá-lo.
Nas décadas seguintes reformas e ampliações foram realizadas, todavia, novas obras já estão sendo consideradas, pois com o aumento dos navios de carga, esses não consegue entrar no canal, o que os obrigam a terem que contornar a América do Sul ainda. Apesar disso, após quase trinta anos de obras irregulares, o Canal do Panamá pode ser concluído.
Referências
CHIDSEY, Donald Barr. The Panama Canal. New York, Crown Publishers, 1970.
MCCULLOGH, David. Un camino entre dos mares: la creación del Canal de Panamá. Madrid, Planeta Publishing, 2019.
ROESSER, Marie. El Canal de Panamá. New York, Gareth Stevens, 2020.