8 de julho: quando Vasco da Gama partiu para às Índias

A rota das Índias era almejada pelos portugueses há décadas, pois permitiria criar independência contra o monopólio comercial do turcos e venezianos que controlavam o transporte de especiarias e outras mercadorias orientais, os quais eram desembarcados nos portos do Mediterrâneo Oriental e do Mar Negro. Portugal querendo romper essa dependência começou a buscar uma forma de contornar a África, todavia, seus limites no começo do século XV ainda eram desconhecidos.

O processo de desbravamento das expedições portuguesas ao longo da África Ocidental levou décadas de prática de cabotagem, iniciando-se após a conquista de Ceuta em 1415, data atribuída por alguns historiadores como o início da Era das Grandes Navegações, também referida como “Era dos Descobrimentos”. Assim, teve início um processo demorado de expansão, contatos, mapeamento e estabelecimento de feitorias e fortificações, destacando-se a expedição de Gil Eanes em 1434 para além do Cabo do Bojador (atualmente no Saara Ocidental), a descoberta do arquipélago do Cabo Verde e a chegada ao Golfo da Guiné, na década de 1460, a expedição de Diogo Cão ao Congo e Angola no início da década de 1480, culminando com a expedição de Bartolomeu Dias que cruzou o Cabo das Tormentas em 1488, sendo hoje o atual Cabo da Boa Esperança na África do Sul.

Mapa da expansão portuguesa na África Ocidental, com a chegada de expedições portuguesas.

A expedição de Bartolomeu Dias foi fundamental para a vindoura viagem de Gama, uma década depois. O motivo se deve que Dias e seus homens conseguiram chegar ao final do continente africano e perceber sua curvatura que seguia para o norte, ou seja, eles tinham chegado ao limite do Oceano Atlântico com o Oceano Índico, algo somente determinado mais tarde. Entretanto, a jornada de Dias mostrava que era possível contornar a África e prosseguir pelo Índico. Mas aquelas eram ainda águas desconhecidas aos portugueses, apesar que navegadas normalmente pelos árabes e outros povos africanos. No entanto, décadas antes, os exploradores Pero da Covilhã (1450?-1530?) e Afonso de Paiva (c. 1443 – c. 1490) tinham sido enviados com a missão de chegarem à Índia, fazendo isso pelo Mediterrâneo e depois adentrando as Arábias. Covilhã chegou a Índia, mas Paiva mudou seu trajeto, indo para a Etiópia. A missão de Gama era chegar novamente às Índias, mas contornando a África.

Passados dez anos desde que Dias partiu para encontrar o final da África, a coroa portuguesa designou o capitão Vasco da Gama (1469-1524) no comando de quatro naus São Gabriel, São Rafael, Bérrio e São Miguel e uma caravela de suprimentos que não tinha nome. A tripulação era formada por 170 homens, os quais eram incumbidos de estabelecerem uma rota para às Índias.

Detalhe do retrato de Vasco da Gama pelo pintor Antônio Manuel da Fonseca, 1838.

Assim, Gama partiu em 8 de julho de 1497 de Lisboa acompanhando Bartolomeu Dias que ficaria na Costa da Mina. Depois de se separarem, a expedição acabou tomando o caminho errado, afastando-se mais do que deveria pelo que foi recomendado por Dias, o que acarretou em vários dias de atraso. Depois voltaram a se aproximar do continente, chegando na Baía de Santa Helena e no dia 22 de novembro no Cabo da Boa Esperança. Após três dias de descanso eles seguiram viagem, indo desbravar a costa oriental africana, até então desconhecida para os portugueses.

No leste africano, Gama e sua expedição parou na ilha de Moçambique, passou ao largo da ilha de Zanzibar (na Tanzânia), e parou nas cidades de Mombaça e Melinde (ambas no Quênia), de lá deixaram de seguir por cabotagem e ampliaram o trajeto por alto-mar, graças a um piloto que conhecia a rota para a Índia, chegando em Calicute em 18 de maio de 1498, após 309 dias de viagem desde que partiram em Lisboa.

Mapa com a rota de Vasco da Gama (preto), Pero da Covilhã e Afonso Paiva para o Iêmen (verde), Paiva seguiu para a Etiópia (azul) e Covilhã seguiu para à Índia (laranja)

Gama e seus homens permaneceriam três meses na Índia, para iniciar a longa viagem de volta. Assim, na jornada de ida e na viagem de volta, a expedição de gama levou em média 10 meses para cada um. Apesar da longa jornada, a conquista foi sem precedentes. Quase um século depois o poeta Luís de Camões exaltaria a expedição de Vasco da Gama em seu livro Os Lusíadas (1580).

Referências

ALBUQUERQUE, Luís de; MAGALHÃES, Ana Maria; ALÇADA Isabel. Os Descobrimentos Portugueses: As Grandes Viagens – II volume. Lisboa: Editorial Caminho S.A, 1992.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Portugal e o Mundo: Nos século XII a XVI. Lisboa: Editorial Verbo, 1994.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 55
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