A rota das Índias era almejada pelos portugueses há décadas, pois permitiria criar independência contra o monopólio comercial do turcos e venezianos que controlavam o transporte de especiarias e outras mercadorias orientais, os quais eram desembarcados nos portos do Mediterrâneo Oriental e do Mar Negro. Portugal querendo romper essa dependência começou a buscar uma forma de contornar a África, todavia, seus limites no começo do século XV ainda eram desconhecidos.
O processo de desbravamento das expedições portuguesas ao longo da África Ocidental levou décadas de prática de cabotagem, iniciando-se após a conquista de Ceuta em 1415, data atribuída por alguns historiadores como o início da Era das Grandes Navegações, também referida como “Era dos Descobrimentos”. Assim, teve início um processo demorado de expansão, contatos, mapeamento e estabelecimento de feitorias e fortificações, destacando-se a expedição de Gil Eanes em 1434 para além do Cabo do Bojador (atualmente no Saara Ocidental), a descoberta do arquipélago do Cabo Verde e a chegada ao Golfo da Guiné, na década de 1460, a expedição de Diogo Cão ao Congo e Angola no início da década de 1480, culminando com a expedição de Bartolomeu Dias que cruzou o Cabo das Tormentas em 1488, sendo hoje o atual Cabo da Boa Esperança na África do Sul.
A expedição de Bartolomeu Dias foi fundamental para a vindoura viagem de Gama, uma década depois. O motivo se deve que Dias e seus homens conseguiram chegar ao final do continente africano e perceber sua curvatura que seguia para o norte, ou seja, eles tinham chegado ao limite do Oceano Atlântico com o Oceano Índico, algo somente determinado mais tarde. Entretanto, a jornada de Dias mostrava que era possível contornar a África e prosseguir pelo Índico. Mas aquelas eram ainda águas desconhecidas aos portugueses, apesar que navegadas normalmente pelos árabes e outros povos africanos. No entanto, décadas antes, os exploradores Pero da Covilhã (1450?-1530?) e Afonso de Paiva (c. 1443 – c. 1490) tinham sido enviados com a missão de chegarem à Índia, fazendo isso pelo Mediterrâneo e depois adentrando as Arábias. Covilhã chegou a Índia, mas Paiva mudou seu trajeto, indo para a Etiópia. A missão de Gama era chegar novamente às Índias, mas contornando a África.
Passados dez anos desde que Dias partiu para encontrar o final da África, a coroa portuguesa designou o capitão Vasco da Gama (1469-1524) no comando de quatro naus São Gabriel, São Rafael, Bérrio e São Miguel e uma caravela de suprimentos que não tinha nome. A tripulação era formada por 170 homens, os quais eram incumbidos de estabelecerem uma rota para às Índias.
Assim, Gama partiu em 8 de julho de 1497 de Lisboa acompanhando Bartolomeu Dias que ficaria na Costa da Mina. Depois de se separarem, a expedição acabou tomando o caminho errado, afastando-se mais do que deveria pelo que foi recomendado por Dias, o que acarretou em vários dias de atraso. Depois voltaram a se aproximar do continente, chegando na Baía de Santa Helena e no dia 22 de novembro no Cabo da Boa Esperança. Após três dias de descanso eles seguiram viagem, indo desbravar a costa oriental africana, até então desconhecida para os portugueses.
No leste africano, Gama e sua expedição parou na ilha de Moçambique, passou ao largo da ilha de Zanzibar (na Tanzânia), e parou nas cidades de Mombaça e Melinde (ambas no Quênia), de lá deixaram de seguir por cabotagem e ampliaram o trajeto por alto-mar, graças a um piloto que conhecia a rota para a Índia, chegando em Calicute em 18 de maio de 1498, após 309 dias de viagem desde que partiram em Lisboa.
Gama e seus homens permaneceriam três meses na Índia, para iniciar a longa viagem de volta. Assim, na jornada de ida e na viagem de volta, a expedição de gama levou em média 10 meses para cada um. Apesar da longa jornada, a conquista foi sem precedentes. Quase um século depois o poeta Luís de Camões exaltaria a expedição de Vasco da Gama em seu livro Os Lusíadas (1580).
Referências
ALBUQUERQUE, Luís de; MAGALHÃES, Ana Maria; ALÇADA Isabel. Os Descobrimentos Portugueses: As Grandes Viagens – II volume. Lisboa: Editorial Caminho S.A, 1992.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Portugal e o Mundo: Nos século XII a XVI. Lisboa: Editorial Verbo, 1994.