18 de junho: Dia da imigração japonesa ao Brasil

No ano de 1908 chegou ao Brasil o navio japonês Kasato-maru, embarcação construída em 1900 pelos russos, que passou para os japoneses como indenização por parte da Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). A embarcação era utilizada como um navio-hospital, mas foi reformada para se tornar um navio de passageiros, sendo empregada nos anos seguintes em longas viagens para levar imigrantes para o Havaí e a América do Sul.

Fotografia de 1908 mostrando o Kasato-maru ancorado no Porto de Santos.

No começo do século XX a República dos Estados Unidos do Brasil fez um acordo diplomático com o Império do Japão para promover um auxílio a imigração, a ideia já era sondada desde o final do XIX. Naquele tempo os cafezais necessitavam de mão de obra livre e barata, especialmente em localidades no interior de São Paulo, em que imigrantes italianos e alemães não se interessaram ir. Assim, os dois governos fecharam acordo para que o Japão recrutasse gente pobre interessada em refazer a vida em outro país, e para o governo japonês aquilo era uma solução rápida. Devido a guerra recente e o confisco de terras, isso forçou o êxodo rural e aumentou a pobreza.

Os agricultores começaram a encher as cidades atrás de emprego e moradia, aumentando o índice de desemprego, de pobreza e de criminalidade. Assim, o governo nipônico começou a estudar uma forma de se livrar das consequências do êxodo rural e do desemprego urbano, a solução encontrada era enviar essa massa pobre e miserável para outros países. À medida já tinha sido aplicada anteriormente pelos japoneses ao enviar imigrantes para os Estados Unidos, México e Peru, agora o Brasil se tornava o novo destino, apresentado como um local promissor devido a propaganda feita sobre a riqueza gerada pela cafeicultura.

O Kasato-Maru deixou o porto de Kobe e levou 52 dias de viagem para chegar ao porto de Santos, trazendo 781 imigrantes divididos em 161 famílias. Alguns japoneses acabaram chegando antes, pois conseguiram comprar passagem em outros navios, mudando-se para Macabé no Rio de Janeiro, indo trabalhar em fazendas. Mas eventualmente alguns deles sabendo da vinda de mais imigrantes, decidiram partir para Santos, se unindo a eles. Naquelas famílias a maioria eram pessoas pouco estudadas, algumas não tinham nem concluído o ensino básico. Além disso, muitos nada sabiam sobre o Brasil e sua cultura, tampouco falavam a língua portuguesa.

Imigrantes japoneses em São Paulo, por volta de 1935.

As primeiras décadas para os japoneses foram difíceis devido as mudanças culturais que chegavam a serem alarmantes, a culinária bem diferente e o próprio idioma totalmente distinto. Soma-se a isso o fato de haver racismo e xenofobia no período. Jornais do Rio e de São Paulo noticiavam matérias desagradáveis com a chegada de imigrantes japoneses e depois chineses. Os chamados “amarelos” eram vistos como uma “raça inferior”, estranha e suspeita.

Apesar dessas dificuldades a imigração inicial seguiu a todo o vapor. Em 1915 o governo do estado de São Paulo estimava que mais de 25 mil japoneses vivessem em seu território. Embora muitos tenham imigrado em poucos anos a realidade era bastante difícil, o trabalho na fazenda era pesado, parte dos imigrantes não eram agricultores, e alguns possuíam o sonho de que conseguiriam juntar dinheiro rapidamente e voltar ao seu país, o que acabava frustrando-os.

Assim, os fazendeiros criaram acordos de loteamento em que alugava-se lotes de terra por cinco a sete anos, em que as famílias japonesas se estabeleciam, plantavam café e outras culturas, além de criar animais também. A safra do café deveria ser dada ao fazendeiro, mas uma parte do lucro era restituído aos agricultores. Por sua vez, o que eles plantassem e criassem naquele lote, o lucro ficava com eles. Isso acabou ajudando na subsistência das famílias, a quais inclusive se ajudavam e geravam um mercado interno para os imigrantes.

Imigrantes japoneses num cafezal. Fotografia de 17 de setembro de 1930.

O ano de 1908 apenas marcou o início da imigração japonesa massiva que perdurou até 1973, totalizando quase 200 mil imigrantes que se mudaram para o país, embora nem todos permaneceram no Brasil, alguns depois de meses ou anos voltaram para sua terra natal, ainda assim os que permaneceram, conseguiram se acostumar e aculturar, condição essa que no Brasil existe quase 2 milhões de japoneses e seus descendentes (nipo-brasileiros), consistindo na maior quantidade de japoneses fora do próprio Japão.

Referências

DAIGO, Masao. Pequena história da imigração japonesa no Brasil. São Paulo, São Paulo: Gráfica Paulos, 2008.

NOGUEIRA, Arlinda Rocha. A imigração japonesa para a lavoura cafeeira paulista (1908-1922). São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 1973.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 55
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