Monte Saint-Michel: a abadia do mar

Situada numa ilha rochosa diante da foz do rio Couesnon, na baía de Saint-Michel, localizada entre as regiões francesas da Bretanha e da Normandia, foi construído no século X uma pequena abadia dedicada em homenagem ao arcanjo São Miguel (Saint-Michel). Com os séculos a abadia cresceu e tornou-se uma fortificação parecida com um castelo, sendo cercada por uma muralha e possuindo sua vila.

Situada numa ilha rochosa diante da foz do rio Couesnon, na baía de Saint-Michel, localizada entre as regiões francesas da Bretanha e da Normandia, foi construído no século X uma pequena abadia dedicada em homenagem ao arcanjo São Miguel (Saint-Michel). Com os séculos a abadia cresceu e tornou-se uma fortificação parecida com um castelo, sendo cercada por uma muralha e possuindo sua vila.

Nos séculos VI e VII a ilha foi utilizada como base por uma tribo de francos, que ali possuía uma fortificação. Todavia, em determinado momento do século VII, os francos deixaram a ilha, mas as terras vizinhas ainda eram ocupadas. O bispo Aubert de Avranches que atuava na região, em certa ocasião no ano de 708, teria tido uma visão divina, na qual avistou São Miguel na parte mais alta daquela ilha, chamada Monte Tumba. O bispo teria num primeiro momento ficado incrédulo, mas numa segunda aparição ele aceitou a revelação. O arcanjo teria ordenado que o clérigo construísse um oratório em sua homenagem ali. O oratório foi construído de forma simples em 709, e o nome da ilha foi renomeado para Monte Saint-Michel.

Entretanto, a ilha não foi ocupada pela Igreja Católica de imediato, e continuou a servir de posto de observação e militar, principalmente por conta das invasões vikings no século IX. Mas tendo cessado os ataques vikings, a ilha de Monte Saint-Michel passou a ser disputada pelos condados da Bretanha e da Normandia durante o século X, tendo ficado por algum tempo sob jurisdição bretã, depois passando em 933 a apoiar Guilherme I Espada Longa (910-942), Duque da Normandia. Entre 965 ou 966, a posse da ilha foi concedida a Ordem dos Beneditinos, a qual fundou um pequeno mosteiro.

O apoio à Normandia se manteve no século seguinte, em que se apoiou o duque Guilherme, o Conquistador (c.1028-1087) na conquista da Inglaterra em 1066. Depois disso o mosteiro ganhou terras e riquezas, permitindo seu crescimento e prosperidade, tornando-o uma das principais abadias do norte da França. Mais tarde no século XII, ela começou a ser fortificada, ganhando traços arquitetônicos do estilo românico tardio e o início do gótico, além de servir de base para a Guerra dos Cem Anos (1337-1422), resistindo a ataques dos ingleses.

Cessado o período das guerras medievais, a abadia foi perdendo sua função militar e mantendo apenas a religiosa. Nos séculos XVII e XVIII ela passou por reformas que a ampliaram e até mesmo um vilarejo surgiu. Também foram construídas as muralhas e bastiões que hoje podem ser vistos.

Durante a Revolução Francesa (1789-1799) a ilha se tornou uma prisão para presos políticos. Essa condição foi mantida pelo governo de Napoleão Bonaparte, perdurando até 1817. Depois disso, a prisão foi suspensa, mas voltou a funcionar entre 1830 e 1870, além de terem estabelecido também um hospital na ilha.

No final do século XIX a ilha se tornou um ponto turístico. Entretanto, com a Primeira Guerra (1914-1918) a ilha voltou a receber guarnição militar, e anos depois, no contexto da Segunda Guerra (1939-1945), Monte Saint-Michel chegou a ser ocupada pelo exército alemão nazista. Após as guerras a ilha retomou sua atividade religiosa e turística, passando por novas obras também.

No entanto, além da beleza arquitetônica da abadia com sua aparência fortificada que lembra para alguns um castelo no topo de uma colina, suas muralhas e vila também são belos. Porém, a paisagem também salta aos olhos, dessa forma, Monte Saint-Michel é um dos principais pontos turísticos franceses na Normandia.

Entretanto, um fenômeno que chama bastante a atenção é a forte oscilação das marés. Naquela baía a maré avança e recua de forma tão impactante, que na maré baixa é possível ir a pé até a ilha, além de que pastos se formam nas suas cercanias. Entretanto essa oscilação foi ampliada também por conta de intervenção humana, em que obras realizadas no XIX e XX, criaram diques, canais e até aterraram alguns trechos. Condição essa que hoje existe uma ponte que leva a ilha.

Referências

Le Mont-Saint-Michel: Historie & Imaginarie. Paris: Éditions du Patrimónie, 1998.

MIGNON, Oliver. Le Mont-Saint-Michel: La baie, le village et l’abbaye. Lille: Ouest-France, 2015.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 55
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