O uso de remo para propulsionar uma embarcação é algo que remonta desde a Pré-história, entretanto, o esporte chamado de remo somente começou a ganhar forma no século XIX, na Inglaterra. Antes disso ao longo da História houve algumas disputas informais de barcos a remo, geralmente corridas. Na Inglaterra do XIX, competições de regatas entre universidades, escolas e clubes começaram a se popularizar, geralmente eram disputadas nos rios com o uso de barcos ou canoas, embora houvesse competições usando barcos a vela. Como a Inglaterra naquele tempo detinha a maior frota do mundo, navios de várias nações passavam por suas águas.
No Brasil a primeira competição de regata a remo que se conhece, foi feita de forma informal na enseada do Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, então capital imperial, no ano de 1851. Consistiu numa disputa amadora usando-se barcos baleeiros e escalares. A disputa foi algo curioso na época e chamou atenção da aristocracia fluminense, e no mesmo ano foi fundado o Grupo dos Mareantes, em Niterói, considerado a primeira organização de regata no Brasil. Em 1874 foi fundado o Club Guanabarino, no Rio de Janeiro.
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Nas décadas seguintes clubes de regatas foram surgindo em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e outros estados litorâneos, pois a prática do remo demorou a adentrar o interior. Todavia, a cidade do Rio de Janeiro concentrava a maioria dos clubes por ser a capital, mas também pela condição de que a Baía de Guanabara, a Lagoa Rodrigo de Freitas e a enseada do Botafogo, se tornaram locais habituais para a prática desse desporto.
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Clubes de origem militar, escolar, portuária, policial, dos bombeiros e de amigos, foram desenvolvidos em várias cidades litorâneas. O remo foi se tornando um esporte mais reconhecido, embora ainda fosse reservado aos homens brancos, provenientes da classe média e alta. Por conta disso, o remo foi considerado por vários anos um esporte elitista, exclusivista e masculino, pois mulheres o praticavam como brincadeira, mas não podiam disputá-lo profissionalmente. Apesar disso, ele se tornou um fenômeno nacional antes de ser suplantado pelo futebol.
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Em 1894, em Porto Alegre, foi fundado o Comitê de Regatas, oriundo da iniciativa de clubes alemães como o Ruder-Club Porto Alegre (1888) e o Ruder-Verein Germânia (1892), os quais se uniram e se tornaram o Clube de Regatas Guaiba-Porto Alegre, tornando-se o mais antigo clube de regatas do Brasil, ainda em atividade. A ideia dos clubes gaúchos foi pioneira, pois embora houvessem vários clubes de regatas brasileiro, não existia uma instituição que organizasse os campeonatos, que legislasse e padronizasse o esporte.
Um dado interessante é que a Federação Internacional de Sociedades de Remo (FISA), foi fundada em 1892, em Turim, na Itália, o que significava que a organização oficial do remo era algo ainda recente, mas o Brasil se tornou um dos países pioneiros a reconhecer a FISA e criar seu próprio comitê nacional.
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Com isso alguns famosos clubes surgiram em seguida como o Club de Regatas do Botafogo (1894), Club de Regatas do Flamengo (1895) e Club de Regatas Vasco da Gama (1898). Os dois primeiros tiraram seus nomes em referência aos bairros cariocas, em cujas praias se praticava o desporto, já o terceiro foi fundado por portugueses e luso-brasileiros em homenagem aos quatrocentos anos do início da viagem de Vasco da Gama para à Índia. Os três clubes cariocas ainda existem, mas no século XX migraram para o futebol. Hoje eles são mais conhecidos por conta desse esporte do que pelo remo, apesar de ainda existir equipes de regatas nesses clubes.
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Em São Paulo surgiram três importantes grupos no final do XIX, em Santos foi fundado o Club de Regatas Santista (1893), que anos depois parte dos membros se separaram e fundaram o Club Internacional de Regatas (1898). O novo clube se diferenciava por ter membros mais jovens, e por aceitar homens de diferentes condições sociais. Já na cidade de São Paulo, surgiu o Esperia (1899), o primeiro clube de regatas da capital. O esporte era praticado nas águas do rio Tietê, ainda limpo na época. Nos anos seguintes novos clubes foram criados, e competições entre São Paulo e Santos passaram a serem realizadas.
Por conta de o Rio de Janeiro concentrar vários clubes de regatas, foi criado em 1897 a União de Regatas Fluminense, entidade para organizar o esporte no estado. Em 1902 ela foi renomeada para Federação Brazileira de Sociedades de Remo (FBSR), passando a organizar campeonatos estaduais e nacionais. A enseada do Botafogo se tornou o principal local das competições, sendo construído um pavilhão, torre para os jurados e as vezes se montavam arquibancadas. A partir de 1905 campeonatos passaram a serem regulares a nível local e estadual, em 1911 se celebrou um campeonato nacional. Em São Paulo e Rio Grande do Sul, competições do tipo também passaram a serem feitas.
No Nordeste, destacou-se a regata no Recife, praticada nos rios e no mar, ainda na década de 1890. Por conta disso, alguns pequenos grupos se uniram e fundaram o Clube Náutico do Recife em 1898, que posteriormente ingressou no futebol em 1901, tornando-se o atual Náutico. Na Bahia tivemos o Clube de Natação e Regatas São Salvador (1902), que passou a ter equipes de remo e de futebol. Na região Norte, o Pará foi pioneiro, inaugurando o Clube do Remo em 1905.
Embora o remo tenha perdido popularidade e espaço para o futebol, entretanto, clubes de regatas brasileiros a partir das Olímpiadas de 1924, passaram a participar de todas as suas edições. Além disso, até a década de 1950, campeonatos de remo ainda eram mais regulares, depois disso o esporte perdeu muita popularidade, e o futebol ganhou fama nacional e internacional. Apesar disso, o remo manteve-se firme nas modalidades olímpicas, e na década de 1970, a categoria feminina foi inserida nas Olímpiadas.
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Em 1977 foi fundada a Confederação Brasileira de Remo, que finalmente organizou os vários comitês e federações que existiam, concentrando a autoridade maior para organizar e legislar sobre o esporte náutico, passando a presidir sobre esse esporte desde então. Apesar da perda de popularidade para o futebol, o Brasil segue como referência nas regatas a remo em competições internacionais.
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Referências
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Confederação Brasileira de Remo. Disponível em: https://www.remobrasil.com/.
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MEDEIROS, Daniela Cristina Carqueijeiro de. O processo de esportivização do remo na cidade de São Paulo (1899-1914). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, n. 44, 2022.
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MELO, V. A. O mar e o remo no Rio de Janeiro do século XIX. Estudos Históricos, v. 13, n. 23, p. 41-71, 1999.
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SILVA C. F; Mazo J. Z. O conflito do trapiche preto: um confronto entre as torcidas dos clubes de remo porto-alegrenses. Educação Física UEM, v. 24, n. 3, p. 401-412, 2013.