Grumete, o aprendiz de marinheiro

Do século XV e ao XIX o ofício do grumete foi recorrente entre as nações europeias. Embora tais aprendizes já existiam antes da Idade…

Do século XV e ao XIX o ofício do grumete foi recorrente entre as nações europeias. Embora tais aprendizes já existiam antes da Idade Moderna, todavia, o termo grumete, cabin boy, mozzo, mousse, scheepsjongen etc. surgiram por esse período para se referir aos aprendizes de marinheiro, os quais eram meninos que a partir de seus oito anos ingressavam a serviço de um navio. Devido a condição de serem jovens homens, os termos mancebos e moços eram usados em Portugal, Espanha, Itália e França para se referirem como sinônimos de grumetes.

Tais crianças eram geralmente órfãos que ficavam desamparados, e decidiam sobreviver passando a servir como grumete nos navios. Tal ofício ia dos oito até mais ou menos os quinze anos, quando o grumete poderia ser promovido a marinheiro ou outro cargo na embarcação.

Os grumetes possuíam um trabalho árduo, normalmente associado com a limpeza da embarcação, em que tinha que varrer, passar pano, molhar o convés, coletar e despejar os baldes usados para se urinar e defecar; eles também ajudavam os cozinheiros, carregavam mercadorias, auxiliavam o capitão, o mestre, o contra-mestre, o piloto e outros empregados. E todo esse trabalho era feito em troca de um mísero salário, isso quando ele era pago, pois em muitos casos o grumete recebia apenas comida e moradia como pagamento.

Apesar do trabalho difícil, muitos jovens buscaram tal ofício para poder não morrer de fome e sonharem em alcançar melhores cargos nos navios. Alguns desses homens foram Sir Francis Drake (c. 1540-1596) notório explorador e corsário inglês, Sir John Harman (c. 1625-1673) que se tornou almirante do rei Jaime II da Inglaterra, Horatio Nelson (1758-1805), almirante inglês famoso pelas vitórias em batalhas navais, como a Batalha de Trafalgar (1805), em que a frota de Napoleão Bonaparte foi derrotada.

Alguns jovens sem perspectiva de futuro em terra, mas que ansiavam por traçar carreira marítima, se ofereciam ou disputavam vagas na marinha de guerra ou marinha mercante, ambicionando serem efetivados em algum cargo e receberem salário fixo. Isso poderia acontecer como ocorreu com Francis Drake, John Harman, Horatio Nelson, entre outros, mas era algo pouco usual. Pois os jovens poderiam morrer devido a doenças, batalhas ou desentendimentos com outros membros da tripulação, além de que alguns quando não conseguiam serem promovidos, desistiam da carreira naval.

No século XIX as marinhas europeias e americanas começaram a reconhecer o grumete não como um empregado informal, mas como um recruta e até mesmo um cargo de baixa patente, que seria promovido para marinheiro ou cabo.

Atualmente alguns países ainda mantém o grumete como uma graduação da marinha, tratando-os como estudantes, recrutas, sub-oficiais, etc. Todavia, as funções atuais dos grumetes não se limitam a limpeza, mas em serem instruídos em diferentes atividades numa embarcação, sendo instruídos na navegação, manutenção, preparo de equipamentos, conferências de dados, etc.

Referências

RODRIGUES, Jaime et al. Um perfil de cargos e funções na marinha mercante luso-brasileira, séculos XVIII e XIX. Revista Anos, v. 90, p. 295-324, 2015.

TEMPÈRE, Delphine. Vida y muerte en alta mar. Pajes, grumetes y marineros en la navegación española del siglo XVII. Iberoamericana, v. 2, n. 5, p. 103-120, 2002.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

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