Historiadores navais brasileiros

Em 19 de agosto se celebra no Brasil, o Dia do Historiador, assim, em homenagem a essa data, apresento essa postagem com alguns dos…

Em 19 de agosto se celebra no Brasil, o Dia do Historiador, assim, em homenagem a essa data, apresento essa postagem com alguns dos historiadores navais desse país. Inicialmente é necessário salientar que a história naval é algo que existe desde a Idade Moderna, pelo menos, entretanto, atualmente ela faz parte da chamada história marítima, a qual engloba várias subáreas e abordagens, as quais estudam a relação do ser humano com o mar. No caso do Brasil, a história marítima ainda é pouco desenvolvida e até desconhecida de muitos historiadores, porém, a história naval foi mais privilegiada principalmente pelos estudos associados com a Marinha.

O estudo da história naval brasileira teve início no século XIX, na época do Império, a partir da década de 1870, quando foram publicados os primeiros livros a respeito, os quais seguiam a perspectiva da chamada história da guerra, de abordagem política, militar e nacionalista, condição essa que os primeiros historiadores navais brasileiros eram homens da Marinha e que tinham participado de guerras.

O primeiro nome a ser citado trata-se do tenente reformado Teotônio Meireles da Silva (1829-1887), o qual escreveu alguns livros sobre o assunto. O primeiro de significativa relevância foi A Marinha de Guerra brasileira em Paissandu e durante a Guerra do Paraguai (1876), relato sobre as batalhas navais ocorrida nessa guerra, entre 1864 e 1870. Anos depois ele publicou os Apontamentos para a história da marinha de guerra brasileira (1881-1883), publicado em três volumes, os quais abordam a história da Marinha militar brasileira no século XIX. Outra obra sua foi História Naval Brasileira (1884), iniciando em 1808 com a chegada da Família Real Portuguesa e indo até o final da Guerra do Paraguai em 1870.

O segundo historiador foi o comandante Manuel Pereira Pinto Bravo (1849-1885), o qual atuou como professor, lecionando história naval. O resultado das suas aulas foram publicados no livro Curso de história naval: Primeira Parte – História da marinha militar (1876), abordando temas bélicos da Antiguidade a Idade Contemporânea. Anos depois foi lançado o segundo volume, intitulado Curso de história naval: Segunda Parte – História da Navegação (1884), tratando dessa vez sobre as práticas de navegação marítima. Pela ausência de obras nacionais sobre esses temas, Pinto Bravo recorreu a vários autores ingleses e franceses para montar seu curso e livro. Ambas as obras foram usadas nas academias da Marinha.

O terceiro historiador naval do XIX, foi o comandante José Egídio Garcez Palha (1850-1898), o qual era professor de história naval e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tendo escrito Efemérides navais ou resumo dos fatos mais importantes da história naval brasileira desde 1 de janeiro de 1822 a 31 de dezembro de 1890, publicado em 1891. O livro foi redigido em formato de anais, enfatizando datas importantes, um modelo comum ainda no XIX de se escrever alguns livros de história, cuja função era informar os acontecimentos de forma breve, sem adentrar sua análise.

Meireles da Silva, Pinto Bravo e Garcez Palha são considerados os pioneiros da história naval brasileira, representando o que alguns historiadores chamam de “primeira geração” desse segmento historiográfico. Mas nas primeiras décadas do século XX surgiu a “segunda geração”. Na nova leva de historiados navais se destacaram:

O almirante Henrique Boiteux (1862-1945), o qual era conhecido por ser erudito, tendo dirigido a biblioteca, o museu e o arquivo da Marinha, além de ter pertencido a institutos e academias, tendo sido um dos fundadores do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB). Boiteux se destacou nem tanto pelos estudos de história naval, mas principalmente por se dedicar as biografias, tendo publicado Nossos Almirantes (1915-1941), em que redigiu a biografia de 137 militares, dividida em nove volumes. Outro de seus livros famosos foi O Almirante Marquês de Tamandaré um Indigente Brasiliense (1943).

Mas enquanto Henrique Boiteux se dedicou ao gênero biográfico, seu irmão, o almirante Lucas Alexandre Boiteux (1881-1966) também foi um dos fundadores do IGHMB, membro do IHGB e outras sociedades, ele se dedicou mais a história, como foco no período imperial também, tendo escrito vários livros, alguns dos quais: A Marinha Imperial na Revolução Farroupilha (1935), Escola Naval ( seu histórico) 1761- 1937 (1940), A Marinha Imperial versus Cabanagem (1943), A Marinha Imperial e outros Ensaios (1954).

Amigo dos irmãos Boiteux esteve Dídio Iratim Affonso da Costa (1881-1953), historiador e biógrafo, um dos fundadores do IGHMB, ele também se especializou nas biografias de oficiais da Marinha, redigindo várias delas como Saldanha: Almirante Luiz Philipe Saldanha da Gama (1944) e Noronha: Almirante Julio César de Noronha (1944).

O vice-almirante João do Padro Maia (1897-1989) escreveu Através da história naval brasileira (1936), obra dividida em três partes abordando a fundação da Marinha e a Guerra de Independência (1822-1825), a carreira do Almirante Tamandaré (1807-1897), e na terceira parte o autor tratou de alguns conflitos e acontecimentos navais. Outros de seus livros foram: D.N.O.G (Divisão Naval em Operações de Guerra) 1914-1918: uma página esquecida da história da Marinha Brasileira (1961), a respeito da arriscada operação de envio de oito navios para a costa africana em 1918, época da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Um terceiro livro foi A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império (tentativa de reconstituição histórica) (1965), o qual visou redigir a história da marinha de guerra.

Padro Maia marcou a transição da segunda para a terceira geração de historiadores navais. Não obstante, a nova geração se distanciou de alguns aspectos de suas antecessoras, anteriormente focadas numa história tradicional e biográfica. Nessa atual geração se destacaram:

O almirante Max Justo Guedes (1927-2011), sendo membro do IHGB, do IGHMB e de outros institutos. Foi professor também, além de ter escrito vários livros e artigos. Atuou principalmente na história naval e na cartografia histórica, sendo discípulo de Jaime Cortesão, importante historiador português. Justo Guedes redigiu obras desde teor monográfico até assuntos mais gerais de cunho político, militar, náutico e cartográfico. Dentre seus livros se destacam: O descobrimento do Brasil (1966), Roteiro de Todos os Sinais da Costa do Brasil (1968), Brasil Costa Norte (1968), Portugal Brazil the Age of Discoviries (1990), A cartografia impressa do Brasil, 1506-1922 (2012).

O vice-almirante Arthur Oscar Saldanha da Gama redigiu alguns livros e vários artigos, mas ele é principalmente lembrado por seus estudos acerca da participação da Marinha brasileira nas guerras mundiais. Tendo publicado A Marinha do Brasil na Primeira Guerra Mundial (1982) e A Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1982).

O comandante Hélio Leôncio Martins, membro do IHGB e do IGHMB, autor de vários livros como: A Revolta dos Marinheiros 1910 (1988), obra que versa sobre a Revolta da Chibata (1910) ocorrida no Rio de Janeiro, em protesto aos maus-tratos e racismo na Marinha. O livro Almirante Lorde Cochrane: uma figura polêmica (1997), a respeito da atuação de Lorde Thomas Cochrane (1775-1860) na Guerra de Independência do Brasil e outras ações. Um terceiro livro é A Marinha Pitoresca, Abrindo estradas no mar: hidrografia da costa brasileira no século XIX (2006), que deixa de lado temas estritamente políticos e militares. Martins também redigiu vários artigos e coordenou coleções de história naval e história da marinha.

Atualmente se pode dizer que a historiografia naval brasileira estaria em sua “quarta geração“, iniciada nos anos 2000, recebendo o acréscimo de estudos náuticos, além de novas abordagens historiográficas. Entretanto, a história naval brasileira ainda segue restrita principalmente aos membros da Marinha, havendo poucos historiadores civis que se dediquem ao seu estudo. Além disso, muitos dos estudos em história naval no Brasil, continuam associados com a história da Marinha e a história militar, apesar que a história naval contemplem outros temas.

Referências

ALMEIDA, Francisco Eduardo Alves de. A historiografia naval brasileira (1880-2012): uma visão panorâmica. Revista Brasileira de História Militar, ano III, n. 8, 2012, p. 27-56.

FONSECA, Pamela Siqueira. Arquivos da Marinha e historiadores. ANPUH – XXII Simpósio Nacional de História, João Pessoa, 2003.

Introdução à história marítima brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2006.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 57
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