Jeanne Baret (1740-1807) era uma francesa nascida na Borgonha, na pequena vila de La Comelle, no interior do país. Seu passado é desconhecido, ela apenas revelou ser de origem pobre e foi criada num orfanato. No entanto, entre 1760 e 1762 ela passou a trabalhar como governanta na casa do naturalista Philibert Commerson (1727-1773). Por volta de 1764 ela engravidou de Commerson, tendo um filho chamado Jean-Pierre (1764-1765), mas por ele ser viúvo recente e ela de origem pobre, o casamento não foi feito, mas Baret seguiu vivendo com Commerson. O casal mudou-se para Paris, onde ocorreu a grande oportunidade da vida de Baret.
No ano de 1765 o rei Luís XV da França decidiu realizar uma expedição científica de circum-navegação, atendendo os pedidos de seus estudiosos. Para isso ele mandou reunir naturalistas, botânicos, astrônomos, cartógrafos, geógrafos etc., designando para o comando da expedição o veterano navegador e militar Louis Antoine de Bougainville (1729-1811). Ainda naquele ano os preparativos foram feitos, pois a expedição zarparia no ano seguinte. O naturalista recomendado ao rei foi o próprio Commerson, que embora tivesse seus 38 anos, era homem adoentado e de saúde frágil, com isso ele teve a ideia de levar sua companheira como sua enfermeira e secretária, mas a presença de mulheres era proibida nas expedições francesas. A solução encontrada foi disfarçar Jeanne Baret como um homem. Ela entrou na expedição como voluntária e fingindo não conhecer Commerson.
A expedição formada por dois navios o La Boudeuse e o Étoile, zarpou respectivamente em dezembro de 1766 e janeiro de 1767. O primeiro navio era capitaneado pelo próprio Bougainville, já o segundo foi dado ao comando do capitão François Chesnard de La Giraudais (1727-1776), o qual cedeu sua cabine para Commerson. Em algum momento da viagem o naturalista anunciou Jean Baret (até então ainda disfarçada) como seu assistente.
A expedição seguiu até as Ilhas Canárias e depois atravessou o Atlântico indo parar em Montevidéu no atual Uruguai, de lá os navios seguiram para as ilhas Malvinas. Mas devido a alguns problemas de abastecimento, eles tiveram que dar uma volta longa, indo ao Rio de Janeiro para se reabastecer e se recuperar. Ali Baret na época coletou amostras de plantas e minerais pelos morros e a Floresta da Tijuca. Seu marido estava com uma úlcera na perna e teve que ficar a maior parte do tempo no navio, já que não tinha condições de ir a campo. Uma das plantas coletadas por Baret foi nomeada buganvilia em homenagem ao capitão.
Concluída a missão no Rio de Janeiro a expedição passou pela Patagônia na Argentina e seguiu até o Estreito de Magalhães no extremo sul da América do Sul, atravessando-o para o Pacífico, seguindo pelo seu interior até o Taiti, arquipélago ainda pouco conhecido dos europeus naquele tempo. A chegada ao Taiti ocorreu em 1768, tendo sido ali que o marinheiro Baret foi revelado ser uma mulher. Não se sabe exatamente como isso ocorreu, mas pelos diários dos capitães e tripulantes já existia a desconfiança de que Baret não era homem. As suspeitas continuaram nas semanas seguintes. A expedição passou por Samoa e Fiji, adentrando o arquipélago de Papua-Nova Guiné, onde na ilha da Nova Irlanda, é relatado que constataram que Baret realmente era uma mulher, após ela ser vista seminua.
A expedição aportou na cidade de Batavia, onde ficava a capital colonial holandesa na Indonésia. Dali os navios foram reabastecidos e seguiu-se viagem até as ilhas Maurício ao leste de Madagascar, parando em Ilê de France, entreposto comercial francês. Ali Philibert Commerson encontrou seu amigo o botânico Pierre Poivre, na época atuava como governador da ilha. Commerson pediu a ajuda dele. Alegando problemas de saúde que o impossibilitavam de continuar a viagem, Commerson e Baret permaneceram em Ilê de France sob os cuidados de Poivre. Bougainville seguiu viagem.
Entre 1770 e 1773 Commerson e Baret viveram nas ilhas Maurício, visitando o arquipélago e fazendo estudos de botânica e chegando a ir Madagascar também. Commerson acabou falecendo em 1773, deixando Jeanne Baret como dona de uma pequena taverna em Porto Luís (atual capital de Maurício). Porém, problemas locais levaram Baret a considerar retornar a França, assim, ela casou-se com um oficial do exército chamado Jean Dubernat em 1764, para conseguir recursos e proteção para viajar.
Em 1775 ou 1776 o casal retornou a Paris, onde Jeanne Baret reivindicou o testamento de Philibert Commerson, o qual lhe disse que ela era sua única herdeira. Obtendo o dinheiro, Baret se mudou com o marido para a vila natal dele em Dordogne, onde passou grande parte da vida. Baret não voltou mais a navegar ou participar de outras expedições. Mas graças ao plano dela com seu primeiro marido, Jeanne conseguiu dar a volta ao mundo, sendo oficialmente a primeira mulher a ser reconhecida por isso.
Referências:
DUNMORE, John. Monsieur Baret: First Woman Around the World. New York: Heritage Press, 2010.
RIDLEY, Glynis. The Discovery of Jeanne Baret. New York: Crown Publisher, 2011.