Navio dinamarquês Gribshunden, que naufragou em 1495, volta a ser estudado

Equipe de arqueólogos subaquáticos e mergulhadores da Universidade de Lund, do Museu Blekinge e do Museu do Barco Viking voltaram a estudar o navio Gribshunden (Grifo) que naufragou em 1495, na costa sul da Suécia.

Equipe de arqueólogos subaquáticos e mergulhadores da Universidade de Lund, do Museu Blekinge e do Museu do Barco Viking voltaram a estudar o navio Gribshunden (Grifo) que naufragou em 1495, na costa sul da Suécia. A embarcação era um navio militar construído em 1486, medindo 35 metros de comprimento e 7,5 metros de boca (largura), podendo transportar uma tripulação de 150 homens e comportava 11 peças de artilharia.

O navio se tornou famoso no século XXI por ter sido considerado um dos maiores achados arqueológicos de uma embarcação militar escandinava do final do século XV, época na qual nações europeias como Portugal e Espanha estavam engajadas em “descobrir” rotas para às Índias. À guisa de exemplo, Cristóvão Colombo realizou sua primeira expedição em 1492, enquanto Vasco da Gama somente viajaria à Índia ainda em 1497. Embora o Gribshunden não tenha sido um navio de exploração, tampouco participou de expedições ultramarítimas, entretanto, ele se tornou famoso no meio arqueológico por conservar uma variedade de objetos, já que ele estava bem equipado quando naufragou.

Sua construção foi ordenada pelo rei João da Dinamarca (1455-1513), o qual reinou de 1481 a 1513. E durante seu reinado ele governou a Noruega (1483-1513) e brevemente parte da Suécia entre 1497 e 1501. Durante seu influente governo em que João reinou por um período sobre os três países escandinavos, uma frota foi construída para salvaguardar seu poder e reino, no caso, o Gribshunden atuou principalmente em missões pelo Mar Báltico ao longo de nove anos de serviço.

No ano de 1495 o regente da Suécia, Sten Sture, o Velho (1440-1503) incitou que o povo sueco se rebelasse quanto à manutenção da União de Kalmar (1397-1523), criada durante a Idade Média pelo rei Valdemar IV da Dinamarca, a união objetivou que os territórios escandinavos permanecessem sob o governo de um único monarca, sendo eles administrados por regentes. Entretanto, Sten Sture defendia a separação da Suécia e a recuperação de sua independência, mas João da Dinamarca foi contrário e assim decidiu viajar para Kalmar (local da criação da união) no intuito de negociar com Sten Sture. Na ocasião, o navio Gribshunden, que era um dos principais da frota real, seguiria para lá.

No entanto, o navio estava ancorado no porto de Ronneby quando pegou fogo, vindo a naufragar. Parte da sua tripulação que aguardava o rei João, morreu no naufrágio. O monarca viajou posteriormente para Kalmar, mas Sten Sture não compareceu, gerando um impasse diplomático. Não se sabe exatamente como o incêndio teria começado, se foi um acidente ou ato criminoso para destruí-lo, na tentativa de se matar o rei ou causar impacto nele e sua corte.

O Gribshunden permaneceu esquecido por séculos quando foi descoberto a 10 metros de profundidade, em 1970, por um grupo de mergulhadores que na época não deram atenção ao naufrágio. Somente em 2000, arqueólogos foram avisados sobre sua localização próxima ao arquipélago Blekinge, no sul da Suécia. Assim, entre 2001 e 2002 uma visita técnica foi feita ao local, mas na época não se concluiu a identidade da embarcação. Nova expedição ocorreu em 2013 quando determinaram que se tratava do Gribshunden, a partir de estudo de datação de sua madeira e objetos, como também a localidade do naufrágio. Em 2015 sua figura de proa na forma de monstro, foi encontrada e recolhida, tendo gerado alguns estudos desde então, pois se trata de uma das poucas figuras de proa em bom estado de conservação. A partir de 2019 nova expedição teve início, sofrendo atrasos por conta da pandemia de Covid-19, mas segue em andamento.

Os arqueólogos das três instituições vêm coletando artefatos e amostras do navio o qual apesar de mais de quinhentos anos desde que naufragou, conseguiu conservar muitos de seus objetos a bordo, o que incluiu várias armas, equipamentos, ferramentas, objetos pessoais etc. Isso se deveu pela condição que o ambiente frio contribuiu para a sua conservação. Vários dos artefatos recolhidos se encontram expostos no Museu Blekinge, além de que desde 2015, artigos vem sendo publicado a respeito dos achados na embarcação. Os mais recentes foram lançados em 2021 e 2022.

Referências

Roskilde Viking Ship Museum takes part in underwater research of extraordinary 500-year-old shipwreck. Disponível em: https://thevikingherald.com/article/roskilde-viking-ship-museum-takes-part-in-underwater-research-of-extraordinary-500-year-old-shipwreck/253?fbclid=IwAR231rULYUkVx7wIAb5w4F9VIpTGZEsyUqCjOkb_8s5JqK4mVVe7gYExHVc.

MARCHANT, Jo. An Extraordinary 500-Year-Old Shipwreck Is Rewriting the History of the Age of Discovery. Disponível em: https://www.smithsonianmag.com/history/extraordinary-500-year-old-shipwreck-rewriting-history-age-discovery-180978825/.

WARMING, Rolf. Gribshunden: Significance and Preliminary Investigations. Disponível em: http://combatarchaeology.org/gribshunden-significance-and-preliminary-investigations/.

Leandro Vilar
Leandro Vilar

Sou historiador, professor, escritor, poeta e blogueiro. Membro do Museu Virtual Marítimo EXEA, membro do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE).

Artigos: 52
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