Tendo completado 70 anos, a franquia Godzilla impressiona; são mais de 30 filmes, alguns seriados, desenhos animados, jogos de videogame, além de que o gigantesco monstro radioativo inspirou todo um subgênero de filmes envolvendo kaijus (termo japonês para monstros gigantes) e os tokusatsu (produções envolvendo efeitos especiais como atores vestidos de monstros ou robôs gigantes, além de personagens usando fantasias).
O nome original do personagem é Gojira, uma combinação dos kanjis que formam as palavras gorila e baleia, evocando uma criatura híbrida que teria a capacidade de nadar, mas também de permanecer em ambiente terrestre. No primeiro filme intitulado Gojira (1954), o monstro aparece como uma força misteriosa, assombrosa e implacável, gerada pela radiação de experimentos atômicos e advinda das profundezas do mar, indo à terra para assolar o Japão que se recuperava da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Mas qual seria a relação de Godzilla com o mar? Isso é interessante, pois quando o primeiro filme foi lançado no Brasil e Portugal, ele ganhou subtítulos bem sugestivos. No Brasil temos versões intituladas de Godzilla: O Monstro do Mar, já em Portugal ele foi chamado de Godzilla: O Monstro do Oceano Pacífico.
Godzilla foi uma criação do estúdio Toho Company através do produtor Tomoyuki Tanaka, do diretor Ishiro Honda, mas sobretudo pelo diretor de efeitos especiais Eiji Tsuburaya, o qual desenvolveu o visual da criatura, baseando-se em outros monstros gigantes populares como King Kong (1933) e no Rhedosaurus do filme The Beast from 20,000 Fathoms (O Monstro do Mar em título brasileiro), lançado em 1953. Inclusive o segundo filme foi bastante influente para a produção de Godzilla, pois apresenta um monstro gigante que parece um dinossauro mutante, oriundo de experimentos nucleares.
Soma-se a essas inspirações cinematográficas a condição de que experimentos nucleares feitos no início da década de 1950 no Oceano Pacífico, assombravam os japoneses, era plena Guerra Fria (1945-1991) e vários países começavam a testar armas nucleares, a memória da destruição das cidades de Nagasaki e Hiroshima por bombas nucleares ainda era recente, além dos estudos apontando os perigos que a radiação causava, assim como, a condição que a ficção científica aproveitava para criar monstruosidades a partir da radiação.
Assim, combinando todas essas influências fictícias e reais surgiu Godzilla num filme de 1954, ainda em preto e branco, que apresentava uma horrenda e gigantesca criatura, um misto de dragão e dinossauro, o qual surgiu do mar para destruir o Japão. Godzilla surgia assim como uma força da natureza que foi corrompida pelas armas criadas pela humanidade.
Apesar de a maior parte das vezes o monstro ser o vilão da história, nos anos 1960 a 1990 surgiram filmes em que ele passou a ser um anti-herói, onde combatia outros kaijus que atacavam as cidades japonesas. A ideia de que Godzilla estaria protegendo a humanidade ocorre em algumas produções, mas normalmente a condição de ele lutar contra esses monstros se deve ao fato de ele estar sendo ameaçado por eles ou ter seu território invadido.
Mas e quanto ao mar? Em geral a maioria das produções sobre Godzilla costumam retratá-lo em ambiente terrestre isso se deve a condição de que antes dos anos 1990, os efeitos especiais para mostra-lo no mar eram precários e a qualidade não ficava boa no final, uma produção que tentou mudar isso foi o filme americano Godzilla (1998), em que o monstro foi reformulado visualmente e atacava Nova York. Em algumas cenas vemos ele em ambiente marinho, atacando um submarino.
Porém, foi no século XXI que os filmes e desenhos tendem a mostrar mais cenas de Godzilla nadando e até lutando no mar. O recente filme Godzilla Minus One (2023), o qual venceu o Oscar de melhores efeitos especiais, mostra perseguições e batalhas contra o monstro no mar, destacando essa característica inicial. Além disso, as produções americanas do Monsterverse (2014-presente) também mostram mais cenas de Godzilla lutando no mar.
Referências